Assimetria Criativa

Prezados;

Publiquei hoje, depois de algum tempo sem nela postar, na newsletter Fotografia em Palavra o artigo Assimetria Criativa.

O artigo trata dos padrões de correção de uma fotografia, do quanto tais padrões podem não acontecer em fotografias ditas notáveis, e de nosso comportamento em relação a eles.

O link direto para o artigo é:

Se para mais nada servir, dá sono -risos.

Abraços,
Ivan

Oi Ivan,

acho que é aquele velho cabo de guerra técnica x assunto. Eu fico com o assunto. É ele quem capta a minha atenção. Vários fotógrafos têm excelentes imagens que são fora de foco, intencionalmente tremidas/com movimento. O que importa é o resultado, se ele capta a atenção ou não. E há momentos em que a gente não consegue acertar o foco 100%, ainda mais se você está fotografando, por exemplo, com uma Nikkor 85/1.4D a 1.4 - a nitidez é excelente mesmo aberta, mas o foco tem que ser 100% preciso para não parecer que nada está em foco. Era assim, também, com uma Canon 55/1.2 SSC que eu tive. A princípio achei que ela fosse uma porcaria, mas com o uso se revelou uma das lentes mais incríveis que já tive, mesmo a 1.2.

Exemplo com a Canon 55/1.2:

Exemplo de fotos com a 85/1.4D a 1.4:

Aqui está uma foto que não está nítida, mas eu acho uma das minhas melhores pela expressão da figurinha:

E quase já ia esquecendo da minha boa e velha Rolleiflex 3.5F e sua Planar 75/3.5 que, aberta, não é muito nítida, mas dá um clima que eu gosto muito:

E essa foto feita pela minha esposa com a 85 a 1.4? Acho muito divertida.

Eu acho que tem momentos que falam mais alto que a precisão técnica e não perderia nenhum deles em nome da técnica. Como dizia Ansel Adams (as palavras podem não ser exatamente essas), “não há nada pior que uma foto ruim perfeita tecnicamente”.

Abraço,

José Azevedo

É isso mesmo, José.
E suas fotos são lindas. Tenho muitas assim com foco curtíssimo, quase impossível (na verdade lentes que abrem muito terminam não dando impressão de haver foco em lugar nenhum devido ao DOF muito pequeno.
Mas independentemente disso, são fotos como eu gosto, vivas, afetivas.

Ivan,

muito obrigado pelos elogios. São realmente um incentivo a sair fotografando mais. Numa conversa anterior me classifiquei como um retatista da minha vida, lembra? E a vida é feita de momentos, é isso que importa ser captado.

Vejo muito essa diferença conceitual na fotografia americana e na européia. Enquanto os americanos são muito técnicos, os europeus, especialmente os franceses e, por incrível que pareça, alemães e poloneses, vão mais atrás de um momento expressivo e não de um “momento técnico”. O resultado, por parte dos americanos são fotos perfeitamente sem graça e, por parte dos europeus, ótimas fotos “erradas”. Eu fico com a segunda opção.

Grande abraço,

José Azevedo

Eu gosto de discussoes filosoficas sobre fotografia, entao vou enbarcar nesse topico.

Em primeiro lugar, nos dias de hoje existe muita poluicao fotografica. Para todos os lados que olhamos, existe uma fotografia, boa ou ruim. Na epoca que quase nao existia fotografia, qualquer foto era fenomenal. Hoje, para uma foto ganhar um segundo a mais de nossa atencao, ela deve ser inusitada. No exemplo da foto do LaChapelle, a sala toda pintada de azul eh o toque inusitado, criativo. Quando eu comparo minhas fotos com a de grandes fotografos em busca das diferencas, eu noto que as grandes fotos sao muito simples, ao passo que as minhas sao conturbadas, complexas. Uma vez eu li uma entrevista de um grande mestre da fotografia (acho que era o Kappa) falando que o grande desafio nao eh decidir o que incluir, mas sim o que tirar do seu frame.
Continuando nessa foto, a intencao eh clara, o fotografo quis mostrar o movimento dos dancarinos. O boombox esta ali, teoricamente tocando uma musica. Se os dancarinos estivessem bem definidos, congelados, o fotografo falharia em comunicar o movimento. Se o cara teve tempo de pintar uma sala para uma foto, ele teria congelado os dancarinos para obter o foco perfeito, certo? Entao a foto nao esta nitida porque existe uma razao para a foto nao estar nitida.

Eu participo de diversos forums de fotografia, em portugues e em ingles, genericos como este ou especializados em rangefinders ou grande formato. E sempre existe uma orda de “fotografos” que dao mais importancia aa tecnica do que aa mensagem. Veja bem que nao estou advocando que a tecnica nao eh importante. Eh e muito. Como em qualquer coisa na vida, vc so pode quebrar uma regra para ser criativo aa partir do momento que voce conhece bem aquela tecnica ou regra, e sabe exatamente quais sao os efeitos em quebra-la. Esses “fotografos” que criticam uma foto por nao estar com um foco tao afiado que ate corta os seus olhos, ainda estao em um estagio inferior da fotografia, ainda estao aprendendo as tecnicas, e entao quando olham uma fotografia, nao estao atras da mensagem, e sim em aplicar o que acabaram de aprender, varias vezes dentro de um ciclo de auto-massageamento de ego.

No artigo do Ivan, outra questao eh abordada, o populismo de algumas obras de arte. Esse fenomeno nao eh novo e nao ocorre somente na fotografia. Por exemplo Andy Warhol uma vez criou um quadro pintando com uma tinta metalica, e enquanto fresca, mijou sobre a tela. O trabalho chama Oxidations, e veja o que o proprio Warhol fala sobre a obra: “The Oxidations are metaphors for transubstantiation, the transformation of base materials into precious objects.”
Nao me leve a mal, mas eu sou um engenheiro e muitas vezes tenho um olhar mais pragmatico da vida. Eu leio esse quote do Warhol da seguinte maneira: “Eu sou um artista famoso, e nao importa o que eu pinte, as pessoas vao achar que eh realmente arte, ate meu mijo vira arte.”.
O flickr eh o melhor exemplo disso, da uma passada no meu flickr, mas nao para ver as minhas fotos, que sao mediocres, mas para ver as minhas favoritas. Tem muito fotografo no flickr que eh tao anonimo quanto eu e tem um trabalho muito melhor que bresson ou adams. A diferenca? Comprometimento, oportunidade, contatos… vai saber.

Eu sou fanzasso do HCB, mas nao o idolatro. Assim como qualquer outro fotografo, o cara tem umas fotos realmente geniais, mas varias outras em numero ate maior que sao mediocres.

Obrigado pelo comentário, padu.

Existe algo em manter uma mewsletter que é a solidão. Enquanto em um fóprum conversamos, discutimos, discordamos ou concordamos, na newsletter escrevo para o leitor imaginário. Respostas são sempre excelentes de ler.

No caso da foto do LaChapelle, não apenas os dançarinos estão sem foco mas a sala também não está nítida. É claro que há alto nível de intencionalidade, mas há aquilo que chamei de Assimetria Criativa, isto é, não é uma foto certinha. E isso em nada a prejudica.

Mas se você postasse a mesma foto, leria aqui e em outros lugares que “errou o WB” -risos- “não disparou a câmera suficientemente rápido” ou “que os dançarinos estavam de um lado e não havia assunto do outro”. Isso significa que aqui perto as fotos são analisadas como se devessem cumprir um modelo hígido, modelo sem a assimetria criativa que vemos em tantas ótimas fotos.

Quando você diz que há no Flickr excelentes fotógrafos, eu concordo com você. Não são muitos, pois excelentes em qualquer ramo é pouca gente, mas há e não são conhecidos.

No caso do Warhol, ele ocupa um papel em uma virada da arte muito ampla. Assim, as obras dele devem ser perspectivadas nessa virada na qual a arte deixa de ser um artesanato e a valer pela qualidade do artesanato e torna-se mais e mais uma idéia, uma idéia em um lugar (museu/galeria). Eu mesmo continuo gostando do artesanato, mas entendo o que se passou.

Grande abraço,
Ivan

Ivan,

Terminei de ler o artigo hoje. Ficou show de bola!
Cara, aquela foto que está de exemplo é sensacional, nunca tinha visto ela. Vc a tem em resolução melhor?

Ainda não pude ler os comentários do Padu aqui em cima… qd sobrar mais uns 5 minutos eu leio! hehe

Não a tenho, Rafa. Dê uma pesquisada no Google com “LaChapelle” e clique em imagens. Quem sabe?

Mas é de fato muito legal, não é?

As photoshopadas do LaChapelle são TOP!

Tb gosto do http://www.davehillphoto.com/

BTW, posts de alto nivel galera!!

Dave Hill virou febre faz um tempo… ele foi o maior responsavel pelo aumento exponencial de vendas de ring flash. Sim, porque high pass sem uma iluminacao apropriada nao vai fazer com que suas fotos fiquem iguais aas dele ;D

Você vai me desculpar, mas não tem nem comparação. Um é criativo, ousado, com uma abordagem que toda o incômodo mas funciona. Esse Dave Hill é apenas um bom ilustrador de PS, com fotos mais que mornas. Tudo tão civilizado que só serve para capa de disco de conjunto emo.

Se ele “beber” o mesmo “chá” do LaChapelle talvez vc passe a gostar um pouco :slight_smile:

Como é o esquema de iluminação do Dave Hill ?

Consta que o Lincon teria dito aos seus generais que criticavam o General Grant que ele bebia. Como bebia mas ganhava as batalhas, o Lincon rrespondeu a eles que procurassem saber a marca do Bourbon e tomassem também.

Bom, cada foto tem um esquema diferente, mas a marca registrada dele eh o uso de ring light. Eh como um softbox, mas que vai ao redor da lente. Eh uma luz muito bonita que “embrulha” o assunto em luz.

Além do Ring Light eu acho que ele usa uns flashes bem duros pra dar uma abrilhantada em certos pontos e conseguir fazer esse high pass sinistro que ele (mais provavelmente a equipe dele) faz no PS.

Discordo do Ivan quanto às fotos deles só servirem pra capa de disco Emo! hehe Muitas são assim, mas é isso que coloca dinheiro no bolso do cara.
Gosto dos esquemas de iluminação dele, são bem diferentes do que se costuma achar. Virou modinha agora esse lance de fazer fotos beirando a ilustração, todo mundo quer tirar uma foto com “wrap light” como os gringos chamam, meter um “high pass” e falar que ficou igual as fotos do Dave Hill! hehe As fotos ficam quase irreais, parece ilustração mesmo, tem um garoto (garoto mesmo, de 17 anos! Meu PC não tá abrindo página gringa, então depois eu acho o nome dele…) americano que faz fotos bem nesse estilo. O cara só usa speedlite (deixei as aspas pra lá! haha) pra iluminar as cenas e depois mete um PS absurdo em cima.

Detalhe… esse “menino” tá cobrando US$300,00 pelo DVD com suas artimanhas! hehe Isso pq ele tem um blog que conta bastante coisa…
Eu tinha favoritado… mas o PC não abre… grrrrrrr

Muitas são assim, mas é isso que coloca dinheiro no bolso do cara.

Toda a questão, que distingue o cara bom do cara médio, é o que cada um vende para ganhar dinheiro. Afinal, todos precisam ganhar dinheiro.

Ainda em dave hill… o cara esta fazendo nome… e no final, ainda relativo ao que estamos falando aqui, eh o que faz uma obra virar arte. As fotografias dele sao inusitadas, e se ele nao foi pioneiro na tecnica, eh o pioneiro em difundir, que eh o que vale na verdade.

Os franceses têm uma longa tradição em fotografia “surrealista”, da qual David LaChapelle é a estrela mais proeminente graças à nossa falta de memória. Já no final da década de 60 Guy Bourdin fazia esse tipo de fotografia - não com a sofisticação de produção dos padrões atuais - para Charles Jourdan, um renomado designer de sapatos femininos. E sem Photoshoop, só na base do enquadramento, uso consciente de lentes, do cérebro, essas coisas básicas.

Outras figuras recentes dentro do mesmo estilo e que também merecem destaque é a dupla Pierre et Gilles. O trabalho deles é bem interessante, único até, por ser uma colagem misturando o brega, o déjà vu, com as técnicas disponíveis hoje em dia.

Aos interessados, sugiro um search nesses fotógrafos para conhecer melhor o trabalho deles.

Lembram de Man Ray? Imagine se ele tivesse o acesso à produção que se tem hoje.

Não conheço o trabalho de Dave Hill. Dei um search no Google images e o que apareceu me pareceu um tipo de fotografia caricaturada, extremamente dependente do Photoshop (tudo bem, até aí é mais uma ferramenta disponível), mas sem recheio, seja de conceito ou idéia. É a graça pela graça, o que deixa o trabalho extremamente descartável, é muita (pós) produção jogada fora. Como será ele sem Photoshop?

Por quê eu valorizo tanto os fotógrafos de antigamente (e nem faz tanto tempo assim)? Porque eles não tinham os recursos eletrônicos disponíveis atualmente. Era tudo na raça, pensado para ser executado com perfeição e memorável, como vocês podem pesquisar na internet. De lá pra cá eu não vi uma evolução conceitual, um grande aperfeiçoamento do que já era feito, apesar da ENORME evolução técnica.

É aquela velha história: o que Ansel Adams faria, hoje, com os recursos eletrônicos disponíveis se ele entrou para a história sem ter nada, além de sua cabeça e suas mãos? Acho que ele já estaria no século 22.

Quando você tem um bom conhecimento do básico vai mais além. A técnica passa a ser intuitiva e trabalha a favor das idéias naturalmente.

Abraços,

José Azevedo

Oi Padu,

eu penso um pouco diferente, acho que o que vale é a criação, não o marketing. Ok, estou errado pois o marketing traz fama, fortuna, você entra para o fabuloso Mundo de Caras e pode amarrar o burro na sombra, fazendo a mesma coisa, chupando as fotos dos outros até o fim da vida - como fazem muitos fotógrafos consagrados tanto por aqui quanto por aí…

Indo ao que interessa, parabéns pelo seu trabalho, é simplesmente adorável, tem vida, energia, o que já o diferencia de muitos por aí.

Abraço,

José Azevedo