Da forma como foi dito no artigo é como se o ato fotográfico iniciasse ao momento do clique e terminasse com a geração digital da foto.
Pior, o artigo reduz a pintura tão somente ao processo mecânico de dispor a tinta sobre a tela.
Sabemos que tanto a fotografia quanto a pintura vão muito além disso. A genialidade de um pintor vai muito além de saber misturar as cores, compreender uma perspectiva e colocá-las em seu trabalho.
Aliás, acho que fotografia e pintura diferem nesse aspecto, mas em outros são bem parecidas.
Ambos os processos ocorrem de início na mente. Tanto o fotógrafo quanto o pintor devem começar escolhendo o seu motivo, o seu assunto. Isso é totalmente subjetivo e é o primeiro indício artístico. Não é qualquer um que sabe o que escolher para fotografar ou pintar. Ou seja, saber o que escolher de forma a obter um bom resultado é uma etapa primordial e é um fator decisivo entre uma boa ou má fotografia ou pintura.
Depois vem o como fotografar. Que ângulo? Que luz? Qual a melhor luz para aquela superfície? Como realçar ou esconder detalhes? Esse raciocínio ocorre tanto na mente do fotógrafo quanto na mente do pintor. A diferença está na hora de executar. A dificuldade para o pintor está na destreza para colocar a luz que ele imagina na tela e a dificuldade para o fotógrafo é esperar e saber reconhecer o momento exato em que aparecerá a luz que ele quer, no caso de fotografia de natureza, ou saber criar a luz que deseja, no caso de fotografia de estúdio.
Quanto à composição, a dificuldade é a mesma. Saber dispor elementos de forma harmônica numa tela ou num quadro fotográfico é pré-requisito tanto para pintores quanto para fotógrafos. E neste ponto, as regras são basicamente as mesmas. E, neste ponto, vejo uma dificuldade a mais para o fotógrafo. Com dizia Cartier Bresson, o ato fotográfico implica num reconhecimento, em frações de segundos, de um evento como sendo candidato ideal pra ser fotografado. Ou seja, a percepção da composição ideal deve ser feita numa fração de segundo. Passado o tempo, já era.
Em fim, podemos analisar o objetivo final da pintura e da fotografia: impactar o espectador. Tirá-lo da zona de conforto. Causar emoção.
Não é qualquer fotografia ou pintura que consegue isso.
Como exemplo, podemos observar as fotos de arquitetura que muitas vezes conseguem valorizar os ambientes, as texturas e as luzes de forma extasiante. Será que uma pintura de uma fachada de um prédio conseguiria o mesmo efeito?
Não podemos colocar a Monalisa ao lado de uma foto, fazer uma comparação e generalizar. Fotografia e pintura servem bem a propósitos diferentes. São linguagem diferentes.
Na maioria das vezes o pintor escolhe o seu tema. O fotógrafo deve aproveitar o que a ele se apresenta.
Bom, não me preocupo com esse tipo de comparação porque não acho que sejam coisas comparáveis e acho que o artigo demonstra um conhecimento parco sobre os dois processos.
Para mim, tanto pintura quanto fotografia são arte, na medida em que expressam o nosso olhar sobre as coisas através de imagens.