Como vcs definem o momento na fotografia e o quanto eh importante para as suas f

otos? (ultrapassei o limite de caracteres no titulo).

Acho que muitos aqui que fotografam eventos terao alguma opiniao e experiencia para falar sobre “o momento”. Mas como vcs definem “o momento”?

Em segundo lugar, alem de fotos de eventos, foto-jornalismo ou mesmo ensaios, vcs acreditam que tambem haja “o momento” em outros tipos de fotos como retratos individuais, arquitetura e natureza morta?

Talvez muitos ainda nunca pensaram sobre fotos de themas inanimados como natureza, arquitetura e still com relacao a"o momento". Mas sim, isso eh uma pergunta seria. Tao seria quanto ao avatar do Lindsay.

Nada pode ser mais sério que isso…

Falando especificamente do meu trabalho (casamentos), os “momentos” que eu me refiro são diversos. Desde os protocolares, como o beijo, troca de alianças, etc, como os espontâneos, que seriam momentos de emoção, alegria, etc. Na verdade, acho que “momentos” importantes acontecem o tempo inteiro em um evento, basta a gente ir atrás e procurar ativamente. Mas os fundamentais, na minha opinião, seriam esses aí que mencionei, de preferência se for momentos com os noivos, claro.

Eu penso que retratos também têm seus momentos. Eu não fiz muitos trabalhos com retratos, mas sempre tem a hora certa, quando a pessoa está mais à vontade, mostrando mais quem ela realmente é. Geralmente saio de uma sessão de retratos com pouquíssimas fotos assim, algumas vezes saio com uma única foto dessas (e às vezes nenhuma).

Em arquitetura eu vejo o momento certo apenas em relação à iluminação natural. Em natureza morta e “still” no geral, eu pessoalmente acredito que o conceito de momento não se aplique…

Kkkkkkkkk, não consigo, neste momento, digitar uma resposta mais elaborada… voltarei mais a noite pra participar.

O tema é ótimo!!!

Não sei se é exatamente sobre isso que vcs estão falando, mas…

Quando se fala “o momento” talvez para a maioria, assim como ocorreu para mim tbm, vem a ideia do “momento decisivo”, conceito muito exaltado por exemplo em fotojornalismo, na fotografia de eventos, na fotografia de natureza… e outras.

Se for disso que estamos falando, penso que podemos definir, entender e relativizar o que seria o primo irmão à esse conceito de “momento” para qq tipo de fotografia, cada qual com suas características.

Eu classificaria 4 tipos distintos:

  1. Primeiramente, ou de imediato, aquele onde o operador da câmera observa, estuda e espera uma conjunção harmônica para fazer a fotografia. É uma busca compositiva espacial do momento ideal para fazer a foto, que envolve os acontecimentos no seu universo a sua volta, mas que ocorre de maneira passiva, onde o fotografo é um espectador em busca de um instante que contenha beleza e magia harmônica do universo.

Mas tbm existem outras situações, me ajudem a definir:

  1. Por exemplo, o auto retrato, quando o fotografo é o personagem, onde ele se relaciona e interfere diretamente naquilo que a fotografia quer expressar, com sua própria imagem.
  2. Na fotografia de longa exposição, quando o fotografo deseja condensar uma considerável parcela de tempo dentro de uma foto, onde ele usa o universo a sua volta para criar uma cena surreal que é possível na imaginação (e na fotografia), mas impossível de se ver a olho nu.
  3. E no caso da fotografia de publicidade, estúdio ou still, onde o fotografo interfere diretamente em tudo, ele cria, projeta e comanda diversas variáveis, testa e experimenta, modifica e dirige, até encontrar aquele “momento” em que ele acha que ficou bom.

Eu penso que “o momento” em geral eh o que consideramos a hora certa de fazer o click. No exemplo do Humberto Yoji em que ele fala do beijo e troca de alianca no casamento, eh aqule momento entre o antes e o depois, quando os labios se tocam ou quando a alianca esta entrando no dedo, ao qual se fotografar alguns segundos antes ou depois vc perde essa hora certa do click.

Outra forma de enxergar our entender o que seria o momento, eh considerar outro sinonimo que talvez seja o nome mais preciso para definir “o momento”: “O apice” de um momento ou evento (a parte decisiva).

Eu sei que em eventos como em casamento, muitos dos momentos mais impostantes ja sao previsiveis, a alianca, o beijo, a danca, etc. Em fotos de esportes as vezes tambem. Nao precisamente previsivel mas sabe-se das chances e entao os fotografos ficam ali preparados para captar o momento quando ocorrer, como o gol, o chute, o dible, ou o carro fazendo a curva em uma corrida, ou o esqueitista fazendo a manobra no topo da rampa.

Humberto tambem deu o exemplo da luz na foto de arquitetura, que tambem vale para fotos de paisagens.

Eu tenho uma percepcao sobre “o momento” que vai alem dessas questoes mencionadas, e que tem um pouco a ver com a primeira questao que Lindsay mencionou: “que envolve os acontecimentos no seu universo a sua volta, mas que ocorre de maneira passiva, onde o fotografo é um espectador em busca de um instante que contenha beleza e magia harmônica do universo”.

Eu vejo o momento mais nessa linha mencionada pelo Lindsay. Mas uma forma mais clara de definir essa linha sobre o momento, eu penso que eh chamar ou enxergar a atividade fotografica como um dialogo visual. No sentido em que o fotografo nao “sai em busca de dizer algo” tentando “extrair” a imagem/mensagem de alguma situacao ou cena como objetivo. Ao invez disso, o fotografo say como mero expectador, aberto a “ouvir” o que situacoes e cenas em que se encontra tem a dizer (se houver algo que tal cena/situacao diga).

Eu penso que isso vale para qualquer tipo de fotografia, mas eu vou dar um exeplo relacionado a fotografai still por exemplo, em que colocamos objetos sobre uma mesa, ajustamos a luz e composicao, para entao fotografar. Mas quando surge “o momento” do click na fotografia still? Eu diria que surge quando vc esta experimentando diferentes formas de composicao, ajustando um detalhe aqui e ali, assim como a luz ou angulo, etc, e de repente da aquele stalo como se vc tivesse acabado de descobrir algo, algo que faz vc saber que ali eh o momento que vc deve fazer o click. Eh quando nao ha mais sombra de duvidas que a fotografia deve ser feito naquela hora, pq se vc mexer mais um pouco vc perde o tal momento (ou apice).

Ou como o Lindsay disse e repetindo: “um instante que contenha beleza e magia harmônica do universo”, ao qual o fotografo esteve atento para “ouvir” e assim capturar.

Pô Marcio,
gostei da tua abordagem, man :ok:

só fiquei em dúvida sobre o avatar do Lindsay :smiley:

Confesso que quando falam em “momento”, logo me remete a questão de figuras humanas. A respeito de arquitetura, paisagem, still, aí realmente meio que perde o sentido nesse aspecto.
Mas referente a pessoas, pra mim o “momento” é crucial. Já cansei de ver fotos onde a modelo é bonita, o fundo é ótimo, a luz, enquadramento… tudo perfeito, porém… a modelo dá aquele sorriso forçado ou olhar meio murcho… aí tudo vai pro espaço.
Resposta meio que óbvia :assobi:

Boa! Gostei! :ok:

E se aplica totalmente também à fotografia de eventos.

Em minha opinião existe o momento decisivo para qualquer tipo de fotografia, em todas as fotografias, e esse conceito se aplica a tudo. Trata-se da interação entre o fotografo e a cena, da decisão, das escolhas até o momento do clique.

Na fotografia moderna, o jargão “momento decisivo”, se confunde com os conceitos expandidos por grandes fotógrafos do passado. Voltando um pouco na história, vamos encontrar a explicação sobre esse conceito em um texto publicado pelo genial Cartier Bresson, originalmente no livro “Images à La Sauvette” (1952), que foi traduzido para o inglês mas com o nome de “The Decisive Moment” (O Momento Decisivo), devido ao prefacio contido no livro. O ensaio “O instante decisivo” é considerado um marco na fotografia.

O termo “um momento decisivo”, foi uma citação que Cartier-Bresson emprestou de um Cardeal do século 17 (Cardinal de Retz):

“Il n’y a rien dans ce monde qui n’ait un moment decisif”
“There is nothing in this world that does not have a decisive moment”
“Não há nada neste mundo que não tenha um momento decisivo”

Graças a internet, podemos encontrar milhares de vídeos e artigos falando e debatendo o assunto. Veja a seguir um vídeo com fotos e a voz do próprio HCB:

A transcrição traduzida deste vídeo vc encontra aqui:
https://www.incinerrante.com/textos/henri-cartier-bresson-o-momento-decisivo

Em 1985, foi lançado o livro “The Mind’s Eye” uma coletânea de textos escritos por HCB, entre eles o famoso texto sobre “o momento decisivo”, o qual pode ser lido aqui:

Pra quem não consegue ler em inglês, se procurar com calma vai achar uma tradução bacana desse texto.

Humberto,
Como Lindsay ja muito bem tratou, se aplica a qualquer fotografia. E nao so isso, tambem se aplica a qualquer tipo de arte e qualquer experiencia humana. A diferenca esta em estar atento a isso ou nao. Nao no sentido de estar atento em busca ou espera de algo, mas simplesmente atento, observar de forma passiva.

amador47sc,
Esse exemplo da foto com modelo de sorriso focado ou muxo segundo suas palavras, tambem eh interessante no sentido que o momento decisivo tambem vale para a modelo, quando ela percebe que atintiu o apice de sua pose, expressao, forma, ou quando entra no “flow” da modelagem.

Um bom exemplo disso vc ve no filme Cisne Negro, na diferenca entre a dancaria querendo atingir a perfeicao e a outra que simplesmente em corpora a cena, movimentos, etc.

O conceito de “momento” ou “momento decisivo” é relativamente fácil de se associar em algumas vertentes da fotografia como foto-jornalismo, esportes, vida selvagem e natureza, eventos, e alguns outros…

Mas a gente poderia debater e fazer uma imersão pelos tipos onde não é tão evidente, como na fotografia de publicidade, em fine-art, still, estudio, retratos e auto-retratos.

Vamos continuar essa conversa???
Por onde começamos???

Penso que eh como eu disse no exemplo da fotografia still, pelo menos na minha experiencia.
Seleciono alguns objetos ao qual consigo ver alguma relacao conceitual ou simbolica. Ao colocar na mesa e preparar a camera, fico fazendo arranjos composicionais. Mas como dito, sem tentar extrair algo mas simplesmente apreciando os resultados dos arranjos em encontro, das relacoes que encontro nos objetos de acordo com as posicoes e distancias entre ume outro, de acordo com o angulo de tais objetos, de acordo com a posicao do objeto na mesa/enquadramento. Ate que um desses arranjos da aquele estalo na mente como se aquilo esteja te dizendo algo interessante. Eh quando eu sei que eh hora de photografar tal mensagens/experiencia visual sendo transmitida.

A melhor captacao do momento eh quando vc (ou o artista) desaparece pq o foco (sentidos) dele esta totalmente na apreciacao. Eh como eu manipulando o objeto para foto still me confundisse com o objeto, tal como um musico ao tocar o instrumento como se fosse uma extensao de seu corpo e nao algo a parte, ou tal como um ator quando ao atuar se confunde com o personagem, o ator desaparece e tudo que vemos ou o que o ator experiencia eh o personagem somente.

Eh nesse foco sensorial que conseguimos ver mais relacoes, significados e mensagens, consequentemente experienciando mais “o momento”, o que seria conseguir captar mensagens transmitidas pelas formas, cores, texturas, movimentos, angulos, etc.

O momento eh melhor entendido no flamenco.

Sabe-se que o grito de “Ole” no futebol vem da danca e musica flamenca, em que o publico brita “Ole” apos um movimento, ou narrativa intensa. E tal grito de “Ole” no flamenco se origina da palavra “Ala” que significa Deus em Arabe.

Associar Ole com Ala parece forcado e absurdo quando nao se conhece o contexto historico, entao eu vou explicar:
O flamento assim como o grito de “ole” na danca e cantiga flamenca, surgiram durante a epoca em que os Mouros (arabes) assentaram e dominaram a politica, economia e cultura na Peninsula Iberica por aproximadamente 500 anos.

Sabe-se que nos rituais tribais africanos, quando a aldeia faz um circulo em volta da fogueira e alguem vestindo uma mascara comeca a dancar incorporando espiritos, quando o dancarino atinge o auge da danca eh quando o publico ja nao ve mais o dancarino, mas o espirito em que o dancarino incorpora, e assim o publico aponta para o danarino gritando o nome do espirito, ou simplismente gritando “Deus”. Eh como quem diz “Deus esta ali” ou “Estou vendo deu”.

Os mouros que eh um povo africano, apesar de serem islamicos eles traziam tambem a cultura tribal africana. Na Espenha, quando surgiu a musica, danca e cantiga flamenca, que era uma mistura da cantiga e poesia arabe com a viola e sapatiado iberico, o grito de ole significa a mesma coisa, o publico que ao ficar arrepiado com o auge do movimento da danca e cantiga, gritava “ali esta” ou “estou sentindo”. Ole.