Sou novo aqui e já me desculpo por antecipação por qualquer eventual inconveniência.
Sou antropólogo, trabalho na Amazônia e vivo em meio a paisagens deslumbrantes. Sempre fui apaixonado por fotografia e sempre fotografei. No princípio, com uma Nikon F, cuja lente (55mm f1:1.2) continuei usando nas DSLR digitais que tive depois.
Apesar de não ser profissional, uso a fotografia no meu trabalho, uma vez que ela é fundamental nos laudos, artigos e livros que escrevo.
Minhas fotos são corretas tecnicamente, nítidas, bem expostas e, sobretudo, medíocres. Sim, composições óbvias que não vão além de reproduzir clichês e deixar à margem o mais significativo e sutil de todo um muito interessante mundo dos povos com os quais trabalho.
Tenho um bom equipamento, aliás, mais do que consigo carregar aos remotos lugares pra onde sempre vou. nem de longe, esta é minha limitação. Costumo perceber, nas fotos de pessoas que viajam comigo, fotografias às vezes tecnicamente ruins, mas comumente com composições muito, muito mais ricas do que as minhas imagens.
Depois de três décadas de frustração, me rendo a admitir que me falta o que é mais essencial: o “olhar”. Admiti também que não desenvolvo isso apenas fotografando. Assim, queria uma ajuda no sentido de ter uma indicação de algum curso à distância (isso é essencial) que pudesse me fazer dar uns passinhos.
Acho que a saída é parar e pensar mais na foto! Lembrar que você é o primeiro a ver a composição no Viewfinder. Quando for fotografar, avalie a sua composição pelo VF, pelo que percebi, você sabe quais são as composições que te agradam e procure reproduzi-las antes de clicar. Divulgue o seu trabalho e absorva os comentários! As vezes você é um pouco melhor, ou pior, do que você pensa; e ouvir outras opiniões é importante!
Faça muitas fotos, explorando ângulos, alturas, exposições. Aos poucos (ou de repente) vc percebe que a quantidade de fotos boas para você está aumentando… É claro que algumas pessoas nascem com talento para fotografia e, em pouco tempo, obtêm fotos que contam histórias em uma única imagem, mas eu não sou uma delas. Assim, leio bastante a respeito (porque acho divertido e agradável) e faço dezenas de fotos de cada situação que considero “fotografável”.
A região onde vc trabalha é o paraíso da fotografia macro (insetos, flores) e da foto com tele longa (aves, animais): já tentou capturar essas imagens?
É assim mesmo. O que a maioria faz é repetição e clichês mesmo. Não devemos nos importar tanto com isso. Claro que a insatisfação também é interessante pois nos ajuda a mover-nos, em conjunto com alguma persistênsia. Já a comparação eu acho extremamente inibidora e um tanto inútil. Mais interessante do que a comparação é a apreciação e a compreensão do trabalho alheio. Isso sim é importante para o aprendizado e pode trazer certa energia motivadora.
Olá meu caro!! Legal sua exposição… e difícil de fazê-la! Admitir limitações é um passo muitas vezes evitado. Talvez o que possa estar acontecendo e só você pode analisar isso, é que que esteja querendo fotografar o maravilhoso lugar em que vive como as fotos que já viu daí… pode estar querendo copiar fotos de grandes nomes porque as viu e achou que funcionam e muito bem. Mas talvez esta não seja a sua forma de enxergar o mundo e, forçando o olhar para outra direção que não a sua, esteja tendo esta impressão. Fotos habituais de lugares comuns tendem a ser comuns… pense sobre o o que gosta… se são detalhes, se são formas, se são cores… animais, plantas, humanos… só assim encontrará a sua fotografia, mesmo que não mostre a grandeza de onde você está… mas será a sua visão… a sua Amazônia…
Meus 10 centavos:
Saia com o objetivo de fazer 10 fotos em duas horas.
Se puder, fotografe usando filme e foco manual.
Se puder, gire em torno do objeto, procurando o melhor ângulo.
Se puder, fotografe bem cedo ou no final da tarde.
Ne meu caso, funcionou.
mautorre, cada pessoa palpa o mundo com seu tato, degusta-o com seu paladar, ouve o mundo com seus ouvidos, cheira o mundo com seu olfato, vê o mundo com seus olhos. Estas impressões são processadas pela mente de cada um, que é um amalgama de determinantes genéticos, vivenciais e circunstanciais. Vai daí que azul, salgado, áspero, oloroso ou fétido, amargo, não são exatamente a mesma coisa para duas pessoas.
Então: As suas fotos são medíocres na opinião de quem? Da sua? Então, me desculpe a franqueza, não há muito o que fazer, considerando o tempo - 30 anos - decorrido tentando mudar isto. Mas se não lhe causam mais desgosto do que gosto, menos mal. Afinal, passa-se de ano por média com 7, não precisa ser 10. Se são funcionais para a sua atividade, bom!.. Já viu, certamente, as de Lévi-Strauss em “Tristes Trópicos”…
Medíocres na opinião de terceiros? Bem… As pessoas, como grupos funcionais - artistas, técnicos, de pesquisadores a torcedores - só concordam numa coisa: Em discordar dos seus pares.
No artigo indicado por Pope, Bresson fala em perceber coincidencia de linhas. Perfeito, se você quiser coincidencia de linhas. Mais adiante, há uma frase que subscrevo: Espero nunca ver o dia em que as lojas de equipamentos fotograficos vendam esquemas geometricos para colocar nos visores das novas camaras
Porque não estou tão convencido que sejam assim tão ruins.
Pelo facto de você estar claramente analizando o que faz…
Não se estará substimando?
Acredito que possam não ser as melhores…
Mas gostava de as ver…
E sem duvida, aqui a critica dos companheiros, seria a melhor ajuda…
Pode que por motivos profissionais não as possa colocar aqui em geral…
Mas algumas que ache representativas …
Não está sendo severo e rigoroso demais com voce mesmo?
As vezes de tato olhar uma imagem(foto) acabamos por achar que é simploria demais e quando olhamos as de outra pessoa achamos que é melhor que a nossa. Deixe que outras pessoas avalie para voce.
Bom local para isso é no Corredor Polonês, aqui do forum.
O primeiro passo é postar suas fotos para ver se: 1) elas são tecnicamente bem feitas; 2) Se elas são medíocres quanto a composição. O seu post foi muito bacana, e as respostas também, então vamos ao que interessa, às fotos…
Estude e observe os mestres de hoje e de ontem. Para de poluir a sua visao com irumeras fotos que nao interessam, e siga seu instinto.
Serio, vc sabe quando uma composicao esta boa quando ve, vc sente. So precisa ficar atento a sua visao e sentimento. E ficar poluindo a sua visao e sentimento olhando inumeras fotos de pessoas aleatorias e se comparando distrae onde a sua visao e sentimento deveriam se focar.
Eu estudei artes, sempre observava obras visuais classicas, colecionava imagens depinturas e fotos que gostava. Quando pisei na fotografia e comecei a fazer minhas primeiras fotos muitos pensavam que eu ja era fotografo experiente, pelas minhas composicoes, enquadramentos, enrredo, etc. E eu senti que meu nivel caiu muito por alguns motivos. Um deles foi quando eu comecei a fotografar para agradar os outros, fazer o que o cliente queria, o que vendia, e nao o que eu realmente almejava. E tambem por perder o costume de observar e estar com obras de mestres aos meus olhos e passar a ter mais contato com a poluicao de imagens de centenas de fotografos aleatorios em forums, social midias, etc.
Eu ate fiz alguns exercicios de nao pensar em nada e limpar a mente quando saia para fazer fotos de rua, como uma meditacao mesmo, nao deixar pensamentos dominarem minha cabeca e ficar totalmente atento a minha visao, audicao e momento. E quando consigo fazer isso consigo fazer fotos muito mais atraentes e interessantes de lugares que ja tinha fotografado antes e nao conseguia registrar/ver uma boa oportunidade de composicao.
E agora que eu estou em uma fase de quase sem trabalhar, fico menos focado em fotografar e me distraindo na internet.
Cartier-Bresson ja dizia que basta olhar que vc ve, o problema eh que a maioria das pessoas nao olham. Vc nao precisa estudar e decorar regras de composicao. O conhecimento tecnico eh interessante e ajuda am algum aspecto, mas uma vez que vc olha e consegue ter essa troca de comunicacao visual com o ambiente em sua volta, vc sente o prazer das formas e composicao que eh universal.
Caríssimos, muitíssimo obrigado a todos. Da intersecção de tudo o que me passaram, algum resultado há que se ter. Vou colocar algumas fotos. As que mais gosto. Vocês verão como as oportunidades foram muito ricas e as fotografias não vão além do que qualquer criança de 12 anos teria ideia de tirar.
Mais uma vez, muito obrigado;
P.S.: Vou colocar as fotos assim que descobrir como…
Pris WerSo, é justamente a minha forma de ler o mundo que não se traduz nas minhas fotos.
Meu trabalho é em situações de expropriação de indígena, quilombolas e comunidades tradicionais. E queria conseguir expressar em imagens, o que descrevo em meus artigos, que é o doloroso processo de desenraizamento que estes povos sofrem quando expulsos de seus territórios. O doloroso processo de, mais do que perder a terra, perder também sua história e sua identidade.
Claudia Andujar faz isso como ninguém. Suas imagens nos fazem sentir na pele o conflito vivido por um grupo a partir de composições mais inusitadas, como um índio em uma rede. Tira beleza e manda com clareza sua mensagem a partir de fotos que ninguém pensaria em tirar.
É curioso, é como se a fotografia fosse uma linguagem que exigisse certa “fidelidade”. Olhar e pensar a situação centrado na construção de um texto, no meu caso, castra o olhar fotográfico.
Das fotografias que fiz nesses anos todos pelos rios do Pará, as que mais gostei foram tiradas em situações em que eu acompanhava outros pesquisadores e, desprendido da obrigação de coletar dados em um caderno de campo, operava certa mudança de canal e quase me sintonizava.
E, acho que é isso, cada um com sua língua: uns dançam, outros fotografam, outros escrevem. E viva a pluralidade da linguagem! Mas que fica uma ponta de recalque, isso fica.
Um forte abraço e obrigado.
Vou arriscar duas possiveis causas da tal má fotografia… Sem as ver.
É algo genérico que ainda hoje pode afectar a muitos… eu incluído… pelo que…
Quando nós vemos duas fotos do mesmo sitio feitas por gente distinta… habitualmente reconhecemos imediatamente o ‘fotografo/a’ dos que pegam a camera porque gostam, mas sem que a isso dediquem mais que aqueles momentos giros…
As fotos destes pecam em geral por muitos elementos, podíamos até falar de muitos motivos na mesma foto. Sem realçar um aspecto… Com o qual, o que queriam transmitir não tem força e se perde no mio de tanta informação.
A rede dela, pode ser isso mesmo … só a rede e senhor lá… com o resto difuminado …
A sua rede até pode ser a mesma… com tres pessoas do lado fazendo algo curioso… atrás crianças correndo atrás dum cão… mais à esquerda…
pode…
A outra questão, que pessoalmente tb me afectou, é a de escrever e fotografar.
Fui jornalista e o primeiro trabalho numa revista foi escrever, como gostava de foto, fazia tb as minhas fotos…
Mas estas eram um acessório do que escrevia. Afinal tinha sido eu o escrevente. Tava tudo contado… A foto servia mais ou menos para ilustrar apenas.
Voce escreve, já contou o importante…
A fotografa não. Ela vai ter que contar tudo o que ela vê com a imagem. Não tem outra forma.
Ou seja é um combate desigual.
Claro ,que como gosta de foto, pode procurar compensar. E às tantas até ganhar a ela… a fotografa. Pois afinal, voce está sempre lá e os motivos para si, abundam.
Mas primeiro terás que dar a volta por cima… por cima do facto de tb escrever…
Eu mais tarde mudei de sitio e no outro o meu já era a sala da imagem… mas tive que continuar escrevendo…
Claro que pode não haver nada disto…
Mas falando disto e daquilo lá se chegará.