Michela di pompeo e o feminicídio na itália

michela di pompeo era uma professora muito querida no liceu alemão de roma, principalmente pela paixão com que ensinava literatura e pela delicadeza com que falava aos alunos sobre empatia e respeito.

ela foi brutalmente assassinada no feriado de 1º de maio de 2017 pelo companheiro francesco carrieri; o ato extremo foi motivado por ciúme após visualizar uma mensagem de um ex no celular de michela. o enterro comoveu o país e iniciou a discussão, até então incipiente, de leis mais duras contra essa tipificação criminal até a criação da “legge sul femminicidio” em 2019.

alguns dias após o crime encontraram a poesia pintada na casa onde ele ocorreu, na via del babuino (centro de roma, entre a praça de espanha e a praça do povo) - ela permaneceu lá por algum tempo, na parede descascada pelo tempo. é atribuída aos alunos que a amavam tanto. o local se tornou um memorial em homenagem à professora e para lembrar o impacto do feminicídio na sociedade italiana.

em tradução minha: “você brilhará, confusa e maravilhosa / luz perdida na noite, se perderá / em um raio do sol, se reencontrará”.

entre os países europeus, a itália está em uma posição central em um ranking de feminicídio, apesar de possuir diferenças regionais marcantes. já nosso país ocupa a 5a maior taxa de feminicídio do mundo, só perdendo para el salvador, colômbia, guatemala e rússia.

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Legal a historia. Boa fotografia acompanhada de uma boa historia é sempre bem-vinda.

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Apesar de ser uma história triste e tratar de um tema tão urgente nos dias de hoje, é inacreditável que ainda ocorram homicídios — especialmente feminicídios. Agradeço pelo alerta, pelo relato impactante e pela excelente imagem que o acompanha.

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Deveriam emoldurar essa parte como uma homenagem às mulheres que sofrem abusos todos os dias. Uma forma de manter viva essa história. Espero que continuem mantendo a parede com a frase

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carlos, é isso… acredito que para se entender uma imagem, ou uma fotografia mais especificamente, o contexto é fundamental. é como tudo na vida, nossos olhares diferem e são largamente influenciados pelo que somos e aprendemos. penso que precisamos dessa construção pra entender o mundo e evoluir no modo com que nos relacionamos com a arte.

caro lizandro, do ponto de vista estético, mais “purista”, nem sei se é uma “bela foto” ou um “belo registro”, como dizem; ou por outra, desconfio que não. é que muitas fotografias são um recorte do mundo, se relacionam culturalmente, historicamente e socialmente com ele; e essa trata de um tema muito particular, mas também universal, na medida em que nos fere a todos na dignidade humana. e respondendo à sua colocação, voltei ano passado e a parede foi pintada. infelizmente, a frase não está lá, não resta nada que lembre michela. mas também para isso fotografamos.

Boa! Nossos olhares refletem o que somos (um pouco de Darwin ai) retroalimentados pelo que experimentamos e aprendemos.

Longe de ser especialista em pintura dou um exemplo que aconteceu comigo com a fase cubista(#) de Pablo Picasso.

Até saber do que se tratava achava os quadros dele infantis e de puro mal gosto. Rejeitava.

Quando aprendi, passei a olhar como algo inovador e revolucionário. Passei a admirar como forma de expressão.

Um outro caso na fotografia, citando um cliché, Cartier-Bresson. Nem sempre admirei suas fotos pois achava elas apenas simplistas e cotidianas, totalmente diferente do meu olhar de hoje para elas.

Experimentar + aprender = evoluir

(#)cubismo simplificado: movimento artístico revolucionário que representa objetos em múltiplos pontos de vista simultaneamente (como se projetados nas paredes de um cubo), usando formas geométricas para quebrar a perspectiva tradicional.

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