Quem acompanha minhas astrofotos sabe que é necessária uma montagem equatorial (“equatorial mount” em inglês) pra acompanhar o movimento das estrelas pelo céu no decorrer da noite. As montagens equatoriais são equipamentos de precisão, que precisam carregar telescópios por vezes pesados com uma precisão suficiente pra acompanhar uma moeda de 1 centavo a 1 km de distância.
As montagens equatoriais do tipo alemão (German equatorial Mount, ou GEM) ou do tipo central (CEM) precisam de contrapesos pra balancear o peso do telescópio. Com isso, o peso do conjunto aumenta significativamente, por vezes impossibilitando viagens com mochila nas costas pra fotografar com estes equipamentos. Um GEM/CEM pra um telescópio de 15 kg pesa (com o contrapeso) cerca de 20-25 kg.
Então vieram as montagens com redução harmônica (harmonic drive) que fornecem muita força e muita precisão em um pacote de tamanho e peso bem pequenos. Tanta força que as montagens equatoriais que usam este tipo de redução não precisam de contrapeso. Em alguns casos ainda é recomendável ter um contrapeso, mas é somente pra evitar que o conjunto tombe pro lado.
Com montagens equatoriais GEM ou CEM, os motores não são muito fortes, e se o telescópio esbarrar em alguma parte do tripé, o conjunto vai simplesmente parar e dar erro. Com estas montagens de redução harmônica, é bem provável que quebre algo no telescópio ou na câmera.
Há vários desse tipo de montagem à venda. O mais famoso do momento é o AM5, fabricado pela ZWO. Uma montagem dessas, com capacidade de cerca de 13 kg sem contrapeso e cerca de 20 com contrapeso, custa cerca de 2000 dólares e pesa cerca de 5 kg.
Há também uma enxurrada de montagens desse tipo, com capacidade e peso similares aos do ZWO AM5. Eu comprei recentemente um dos mais baratos, , de fabricação chinesa, comercializado pelo AliExpress ou pelo eBay. O diferencial desta montagem é custar quase a metade das outras. A minha custou 917 dólares mais taxas mais transporte; ainda assim, o preço final ficou abaixo de 1100 dólares. Mas aparentemente o preço varia diariamente.
Mesmo com o preço baixo, a qualidade mecânica é excelente. A montagem é silenciosa e razoavelmente precisa, ficando na mesma ordem de grandeza de qualquer outra montagem da mesma capacidade. A economia ficou por conta do “sistema operacional” usado. Normalmente, cada fabricante desenvolve o próprio sistema. O JuWei-17 (e alguns outros) usam o sistema de código aberto . Este sistema foi desenvolvido pra ser DIY (faça você mesmo) em montagens baratas adaptadas pra ter capacidade de rastreio. Sendo assim, este sistema não dispõe de vários recursos de sistemas mais avançados. Com isso, usar o JuWei-17 tem sido um aprendizado e tanto. Algumas soluções do OnStep são bem interessantes como corte de custo, como por exemplo, a eliminação de um GPS dedicado, e um aplicativo de celular que transmite a localização (assim como a hora e data, e outras configurações) para a montagem por bluetooth. Mas a ausência de sensores e uma certa inconsistência na posição que a montagem acha que está faz com que se tenha que ter cuidado redobrado na hora de apontar um telescópio pra qualquer assunto no céu. Por vezes eu apontei o telescópio pra uma região do céu, e ele foi pra outra completamente diferente.
Apesar disso, tem sido bem divertido usar esta montagem. Ela é bem leve mesmo. Até hoje usei somente com um tripé parrudo de fibra de carbono e a lente acoplada à câmera ZWO ASI294MC Pro. Posso mover esse conjunto somente com uma das mãos ao final da sessão. Na “primeira luz” desta montagem, apontei pra estrela Antares e o complexo molecular de Rho Ophiuchi. Não levei muita fé que daria certo, tanto que nem liguei o resfriamento da câmera. Mas hoje estou voltando a este objeto, agora com o sistema melhor preparado.