Por que não gosto de crop

Postei em um outro tópico a primeira dessas duas imagens abaixo. Como é minha ortodoxia, imagem sem qualquer ajuste de tamanho, como saiu da câmera em termos de enquadramento.

Mas ao tratá-la percebi o que deixei de fotografar olhando um detalhe dele. Então preparei esta segunda imagem que É UMA FOTO QUE EU NÃO FIZ por ser meramente um crop da primeira. preparei, pois gostei tanto do que vejo nela, as texturas da terra e as sompras em fiapos, que quis ver maior para sofrer mais e assim educar-me e, quem sabe, na próxima vez aproveitas esses elementos ou outros assim.

Foto original:

http://img56.imageshack.us/img56/4692/1343453do6.jpg

CROP (NÃO-FOTO) demonstrando a oportunidade que eu perdi

http://img233.imageshack.us/img233/8350/1343453bmj7.jpg

Olá Ivan!

Discordo de você!
Mesmo com o crop, na minha opinião vc fez a foto sim! Ela está lá… você só tirou as rebarbas, os excessos!
Você capturou uma cena, e dela vc pode extrair o que te interessa!

Mas gostaria de entender este seu ceticismo com relação ao crop. Você diz ‘é uma foto que vc não fez’. Não fez por que? Por que não chegou suficientemente perto? Não usou o zoom?

Indo mais além… será que vc não estaria sub-aproveitando os megapixels da sua câmera?

Eu por exemplo tenho uma câmera de 8megapixel, tem gente que tem uma de 10! E se desta imagem de 8 ou 10, tirarmos ali de dentro uma de 6 ou 5?

Eu faço crop nas minhas fotos. Não é na maioria, é verdade, mas… qdo vejo necessidade, faço sem o menor pudor ou constrangimento. E dependendo do qto eu cropei, ainda faço uma impressão! E os meus crops variam muito, pode ser uma bordinha ocasionada pela rotação de um horizonte torto ou até um recorte de uma cena, fazendo uma outra cena.

E vou além… pretendo chegar um dia a um estágio que consiga tirar 3 ou 4 fotos a partir de uma única exposição! Claro que não seria para economizar máquina e sim fazer de uma foto uma ‘multifoto’ ou… várias leituras a partir de uma única. Isto seria muito bacana.

Mas gostaria de entender este seu ceticismo com relação ao crop. Você diz ‘é uma foto que vc não fez’. Não fez por que?

Eu não fiz esta foto PORQUE NÃO FUI CAPAZ DE VER, NO MOMENTO DA FOTO, O QUANTO OS VALORES FORMAIS DA TERRA E DAS SOMBRAS ERAM INTERESSANTES!

Não vi, Murilo. Não vi e pronto, e não vou me enganar quanto a isso. Eu falhei na hora da foto, falhei no momnento crucial do fotógrafo, que é o do disparo. Eu fotografei a paisagem e a bifurcação, não a terra e as sombras.

Evidentemente, não estou falando de colocar uma tele (que tinha no carro) e fazer a foto-crop, mas sim de entender que esses valores do terreno e das sombras suportariam uma foto muito melhor do que a efetivamente feita, e de certa meneira, o crop tem valores formais superiores, em certo sentido, aos da foto total.

Quanto aos megapixels, eu não considero assim pois meu critério de foto boa é: “aquela que pode ser ampliada em 30X45 mantendo excelente qualidade”. Exceção para fotos cuja captura seja determinada por ruído (ISOS altos e pouca luz) e assim sejam limitadas em tamanho de cópia possível, mas também neste caso o crop as inviabilizaria mais ainda.

sim fazer de uma foto uma ‘multifoto’ ou.... várias leituras a partir de uma única. Isto seria muito bacana.

isso são outros quinhentos mil reis. O crop não é um tabu. Para fotos utilitárias, still, publicidade, moda, para projetos como esse enunciado por você que implicitem o crop, para tudo isso ele não apenas é válido como é essencial. Minha questão é quanto ao modelo de foto autoral que persigo que é fortemente ancorado na composição e na captura, e assim não me interessa o que possa ser feito cortando a foto.

Eu me encontro no “estágio” intermediário de vocês dois, Ivan e Murilo. Sempre tento enquadrar e fazer uma foto para que não precise de “cropar” depois. POr isso as vezes acho que tiro até muitas fotos em determinadas ocasiões (vantagem enorme das digitais). Mas se ao ver uma foto sentir a necessidade de um crop, seja pra retirar uma borda que apareceu “a mais” na foto, um pequeno detalhe, ou como o Murilo disse, acertar as arestas de um realinhamento no horizonte, etc… eu “cropo”.

Passíveis de erros, nós as vezes, no momento da foto não enxergamos as multi opções de composição que uma cena nos dá, seja por distração, seja por o que se quer extrair no momento. Depois quando estamos em casa a frente do computador, estamos em outro estado de espírito que talvez nos leve a reconhecer que naquela cena poderíamos ter feito enquadramentos mais de perto, levando um objeto mais pro lado, mais pra cima, evidenciando outro aqui e acolá, etc…

Não sou ortodoxo quanto ao não-crop, mas cada vez mais busco exaurir as possibilidades de um futuro crop. Estou buscando o ortodoxismo? Penso que não! penso estar buscando a perfeição, apesar de saber que nunca chegarei lá. Por isso amo minha CANON EF 50mm. Uma lente fixa que ajuda muito no exercício da exatidão, no exercício do não-crop.

abraços,
Beto.

Olá,

Acho que o pudor em relação a crop é muito forte nas pessoas que vêm das fotografia de filme. Os que iniciaram já na fotografia digital encaram o crop (e outros tratamentos) de forma mais natural. Para mim a fotografia digital (seja imagem capturada por sensor ou proveniente da digitalização de filme) abriu uma nova forma de enxergar a fotografia. Antes era a arte do fotografo até o click (pelo menos para quem não revela o filme) e agora a arte se extendeu além do click.

Concordo com Murilo. Tratamento (incluindo o crop) digital faz parte da fotografia. Sem a foto (feito pelo fotografo) não há crop ou qualquer outra fotrma de tratamento. A foto é feita pelo fotografo e crop desta foto só pode ser do fotografo. A fotografia é o olhar do fotografo e o crop não seria mais uma forma deste olhar?

s.

Beto, como você trabalha com fotografia, o crop é em muitos casos impositivo. Mas para desenvolver uma linguagem autoral com fulcro na composição e no envolvimento ambiental, o crop é o pior inimigo.

É exatamente isso que consiste a nossa eduação na fotografia, na capacidade de ler a cena em presença, e não depois no computador. Fotografia pode ter tudo, mas antes de tudo é o ato da captura. de um referente.

Eu tenho, por exemplo, um projeto de fazer algumas paisagens cortando 20% da base ou da altura, assim como fazer fotos verticais e enquadradá-las cortando teto ou base, pois percebi que isso provoca uma mudança do olhar de observação muito interessante (pois a transcrição da cena cortando a bsae faz as relações de horizonte e contexto se deslocarem da posição de leitura normal). mas aí é diferente, é um projeto onde o crop é planejado com uma intenção, seja de fazer o cara submergir no espaço, seja dele elevar-se no espaço. Aí é um plnejamento perceptivo, não uma correção.

No sentido usual da fotografia, onde a composição e captura da cena é fundamental, o crop é o grande deseducador.

Ivan de Almeida Postado em 5 Aug 2006, 12:11 PM No sentido usual da fotografia, onde a composição e captura da cena é fundamental, o crop é o grande deseducador.

Concordo plenamente.
Para minhas fotos de trabalho, não vejo objeções quanto ao crop, mas para o desenvolvimento do meu olhar fotográfico, do meu estilo, considero o crop deseducador, como você bem disse.
Abraços,

A fotografia é o olhar do fotografo e o crop não seria mais uma forma deste olhar?

Sim, mas com outro nível de pressão psicológica e exigência. Pedindo perdão pela comparação um pouco, digamos, grossa, o Bresson dizia que o momento do click era um descarregar de tensão semelhante a um orgasmo. Eu acrescentaria: quando isso é na cena, é uma relação sexual com a cena, quando isso é no computador, é masturbação (a menos que seja parte do planejamento, como já fiz ressalva no fim do tópico do Murilo, etc, etc).

O interessante da fotografia, para mim, é exatamente essa pressão psicológica da captura. Essa é a pedra-de-toque, é o momento Zen, de entrega e atenção máximas. Tudo que diminua isso eu fujo. É ali que acontece a análise da composição sobre um mundo vivo e mutável, é ali que a urg~encia de capturar dialoga com a calma necessária para acertar, é ali que a análise das luzes tem de ser feita com rigor para ter o resultado imaginado. É o instante da captura o ato supremo da fotografia, em minha opinião, embora haja posteriormente uma etapa de aperfeiçoamento da imagem, etapa essa que como o próprio nome diz, é APERFEIÇOAMENTO e não uma negação da imagem em a transformando noutra.

Concordo com o Ivam, isso nos traz aquele modelo de ver a cena e fotografar o que realmente queriamos, no caso se houver uma necessidade de um crop para transparecer o que não percebemos na cena, de certa forma invalida o ato de composição e objetivo da foto, sei que o Ivam é por demais exigente, o que vejo como um lado muito positivo, afinal, temos muitos vicios, que são reprováveis, no entanto para tirar algo que atrapalha a cena, por exemplo um objeto no cantinho que não vimos ou não foi possivel tirar no momento do clique, ai sim acredito que não teria nem um problema em usar crop, mas isso é muito controverso, cada um pensa e age de uma forma de acordo com seus conceitos… tenho uma certa consciência sim que devemos racionalizar de forma a utilizar, meios que possam trazer melhores resultados, pois neste caso, a observação mais atenta evitaria o crop, e poderia de fato até aparecer outros resultados satisfatórios, e o mais importante, como Ivam mencionou a Educação de nossa ansiedade, tranquilidade e observação, são importantissimos na hora de fotografar… Valeu Ivam por nos trazer seu ponto de vista, que certamente contribuirá de forma geral… e também de outros colegas…

Ivan, eu entendo seu ponto de vista, e até acho que pro seu caso (que prefere por exemplo utilizar ângulo de visada de 50 mm equivalente) crop se torna algo inaceitável, mesmo pq iria contra a estética da lente que vc quer usar.

Porém, em outros casos acho perfeitamente aceitável, eu sou um cara que fotografa bascamente com tele, em busca de zoom, de recortes de uma cena, pontos que me chamam a atenção, logo ´pro que eu quero, em alguns casos, monto a cena na cabeça e a câmera não me fornece o suficiente pra que eu passe a idéia que eu quero, logo, cropo sem dó, apenas faço a foto já pensando que vou cropar e onde vai ser feito esse crop. Pra imagem que eu produzo, isso não faz diferença nenhuma, pq pra mim a distância focal pouco importa, e sim a imagem captada, pra vc, a distância focal (e possíveis distorções) fazem parte do seu processo criativo, o que te leva a “odiar” o crop e com razão…rs

É isso, Alex. Para quem fotografa com GA, Normal e teles curtas (retrato), o crop é deseducador. para quem quer fotografar um pássaro à distancia, etc, é essencial. Vai da proposta.

Como citei acima, há o uso do crop para criar uma impressão visual de alteração ligeiramente perturbadora. Percebi isso uma vez ao cropar uma foto embaixo e ela melhorar, não como foto, mas sim porque trouxe uma perturbação no ponto de fuga central, pois o ponto de fuga central é no meio do fotograma, e quando cropamos baixando ou elevando a eoto o ponto de fuga centra fica fora do centro da imagem, isso provocando uma perturbação que é às vezes favorável para dar a impressão de imersão na cena. Não se trata aí de crop para corrigir composição, mas sim de algo intentado para manipular a percepção do observador.

Fiz isso na foto abaixo, tirando uma faixa correspondente a 10% da altura da parte de baixo. A foto se esticou e ficou com espacialidade estranha e ao mesmo tempo imersiva.

http://img382.imageshack.us/img382/6271/imagem042sq2.jpg

Eu não fiz esta foto [b]PORQUE NÃO FUI CAPAZ DE VER, NO MOMENTO DA FOTO, O QUANTO OS VALORES FORMAIS DA TERRA E DAS SOMBRAS ERAM INTERESSANTES![/b]

Não vi, Murilo. Não vi e pronto, e não vou me enganar quanto a isso. Eu falhei na hora da foto, falhei no momnento crucial do fotógrafo, que é o do disparo. Eu fotografei a paisagem e a bifurcação, não a terra e as sombras.


Concordo plenamente com vc Ivan, de todas as fotos que já publiquei na internet em toda a minha vida, usei o crop em duas, e lembro bem delas porque me senti mal depois de postar, parece que estou roubando, fazendo uma coisa errada, sei lá!

A fotografia digital já revolucionou o mundo, hj qualquer um pode ser fotógrafo ou pelo menos tem todas as ferramentas nas mãos, por isso penso que se for possível preservar pelo menos o enquadramento, que é tão básico na fotografia, vale a pena.

Prefiro postar uma foto com horizonte torto do que cropar! :mf_tongue:

Abraços,

Calma, não é o fim do mundo…
A tecnologia está ai para nos auxiliar, se a foto ficaria melhor assim, porque não utilizar o recurso?

Jack, numa superzoom crop é “luxo” agora uma digicam com
megas sobrando e principalmente se estiver com uma lente fixa, o crop
pode ser uma necessidade.

Ivan de Almeida, cada caso é um caso…
VC mesmo parecia que não gostava de filtro polarizador, atualmente parece
que mudou de idéia.

Bom… tudo isso ainda é muito recente, mas não poderia deixar de opnar nessa questão. Ao meu ponto de vista, a “arte fotografica” e “arte de edição” são distintas, porém não deixam de ser nem “menos” arte nem “mais” arte.
Até Michelangelo deu retocadas em suas pinturas depois de espostas com pinceis escondidos.

Pictus;

Fotografia tem na sua relação com o referente seu ponto de apoio, sua essência. Quando cropamos, a menos que este crop seja planejado dentro de uma determinada finalidade, caso da fotografia utilitária, etc, estamos NEGANDO O REFERENTE. Estamos negando o momento trnscendental da fotografia, o momento da captura, e a estamos trasnformando em ilustração, a estamos transformando em IMAGEM. Fotografia é uma coisa específica que tem no momento da captura seu climax. Eu não posso negar a captura sem afastar-me do cerne do conceito.

Mas, relativizando, não vejo isso como uma restrição absoluta. Há um milhão de intenções a seerem perseguidas com a fotografia, e não dá para colocar limites precisos. Mas, veja, no meu caso em que a composição é o cerne da minha busca, cropar é reconhecer que fali ao compor.

Veja, no seu sentido mais cru, fotografia é aquilo que pode ser feito em cromo ou em polaroide. Clicou, está definido e determinado o resultado. É esse momento meditativo no qual o fotógrafo deve ser uma máquina de interpretar o mundo e transcrev~e-lo de tal forma exata que se estiver com um rolo de cromo na câmera o resultado esteja pronto na revelação E6 padronizada.

O fato da fotografia digital não ter revelação padronizada obriga a alguma intervenção, mas essa intervenção tem de ser um aperfeiçoamento da foto, um desenvolvimento, como os americanos chamam revelação. A intervenção não pode ser uma negação da captura, o que acontece quendo inventamos uma foto dentro da outra.

Pelo menos, é assim que pretendo seguir.

Quanto às mudanças de ponto de vista, elas existem, e de fato jatualmente estou usando novamente polarizador, mas o polarizador não nega a captura, ele é apenas mais um elemento dela.

Mais ou menos na linha do que já foi dito por alguns colegas, eu antes fazia crop direto, sem nem pensar. Depois que passei a estudar composição mais a sério, praticamente parei com isso. Faço só quando o que vale é o registro mesmo, como no caso do tópico que abri hoje com umas fotos de um pássaro que pousou no muro aqui de casa hoje. Como a intenção na hora foi só pegar a câmera o mais rápido possível, fazer o foco e disparar (usei prioridade de abertura mesmo, para não perder tempo e ver ele sair dali sem que eu conseguisse a foto, como tem acontecido com freqüência) para registar o animal, depois fiz os cortes que queria, pois não tinha mesmo qualquer preocupação com a composição. Mas quando eu penso a foto, analisando bem o enquadramento e a composição, aí detesto crop, pois a necessidade de utilizar tal recurso só serve para mostrar que eu errei na composição.

Belas palavras Ivan :clap:

Aqui no fórum mesmo acho que é proibido cropar nos concursos não é?

To vendo que no futuro, quando as câmeras terão lentes líquidas de 5000 MP, na verdade os fotógrafos serão bons cropadores, e não bons fotógrafos (fui longe agora…)

Abraços,

To vendo que no futuro, quando as câmeras terão lentes líquidas de 5000 MP, na verdade os fotógrafos serão bons cropadores, e não bons fotógrafos (fui longe agora...)
Jack, se eisso for a busca da perfeição e daí? Nossos pensamentos mundam, nossa forma de exergar muda, isso faz parte da evolução. O Ivan não exergou o que ele queria no momento que fotografou, mas ele exergou depois e neesse momento ele fotografou novamente, mas sem camera fotografica. É minha opnião...