Robert Frank e a "menina do elevador"

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Ela se chamava Sharon Goldstein (hoje Sharon Collins), tinha 15 anos e conseguiu um emprego de acessorista nos elevadores do Hotel Frontenac Sherry, em Miami.

Vários anos se passaram e ela resolveu visitar a exposição de fotos de Robert Frank, no San Francisco Museum of Modern Art. Lá ficou encantada com a foto acima, sem saber bem o porquê, até se dar conta que ela era a menina da foto.

Mal sabia ela que a famosa foto de Frank havia ainda inspirado o escritor e amigo do fotógrafo, Jack Kerouac, a escrever na introdução de seu livro The Americans, o seguinte sobre essa foto:

“That little ole lonely elevator girl looking up sighing in an elevator full of blurred demons, what’s her name…”

Ela se lembra que, na época, Robert Frank tirou, sem que a mesma soubesse, algumas fotos sem flash e só depois, com o elevador vazio é que ele pediu uma pose, a qual ela de mãos à cintura e um sorriso largo se mostrou ao fotógrafo. Como o hotel sempre estava cheio de turistas com câmeras à mão, ela achou aquilo muito comum.

“Ele viu em mim algo que muita gente não vê. Eu tenho um grande sorriso e uma gargalhada, e eu sou geralmente muito engraçada. (…). E eu suspeito que Robert Frank e Jack Kerouac viram algo que foi mais profundo, que apenas pessoas que são realmente próximas a mim conseguem ver. Não é, necessariamente, a solidão, é devaneio…”

E após 50 anos, Sharon aceita recriar a cena:


Abaixo, o livro de Frank:

Muito legala história e a foto. Adoro foto assim.

Só fiquei a me perguntar: como reagiriamos se algum de nós psotasse essa foto e pedisse comentários. O que será que diriamos?

“Muito ruido!! Não está com foco certo! Tente usar uma velocidade mais alta para congelar o movimento ou então usar um flash. Aquele vulto a direita incomoda e desvia o olhar. Tente um crop…”

A gente enxergaria os defeitos ou será que a gente veria a magnifica foto, a arte?

Elmo:
Muito bom o tópico.
Fico imaginando, não se a foto seria mal recebida nos fóruns como o colega acima, afinal seria recebida como todas as demais são, mas a sensação de ir visitar uma exposição e notar algo diferente numa certa fotografia sem saber exatamente o que é e, depois de um certo tempo, constatar que é você mesma.
Adorei a observação distanciada que ela fez do próprio retrato.

Muito bacana a estória,este mundo da muitas voltas…
Outro dia ví, não sei se na net ou alguma revista, o caso de mãe e filha que receberam um postal de amigos. A foto era de uma praia que elas costumavam frequentar há muitos anos.Quando olharam com atenção perceberam que entre varias pessoas que estavam na praia apareciam as duas juntas,uns 20 anos mais jovens ! O fotografo fez a foto sem que elas tivessem percebido na altura…

Não significa que a foto seja boa. Significa, isso sim, que a foto inseriu-se como resposta a uma busca da época, qual seja, de revelar aos americanos eles mesmos.

Há mil papéis que uma fotografia pode assumir, há mil formas de significação, mil mensagens. Uma fotografia importante não é necessariamente uma boa fotografia, e uma mensagem fotogra´fica não precisa necessariamente de uma fotografia bem feita.

Nos fóruns confunde-se muito tais coisas. Confunde-se fotografia famosa com boa fotografia, confunde-se fotografia onde há uma idéia com boa fotografia, etc. Falta um debate maior e uma maior consciência sobre o que seja exatamente fotografar, o que se quer exatamente mostrar, e isso falta porque uma grande parte das pessoas não quer mostrar nada, só quer fazer fotos bonitas ou articular uma idéia de viés quase publicitário em uma foto.

O caso mostra bem a potência da fotografia na articulação das idéias, na revelação de uma forma de vida, etc. Mas não se deve confundir isso com boa fotografia. Não é porque a foto foi imp0ortante para algo que ela é boa. Nem ruim. É o que é, e achá-la boa ou ruim como fotografia mesma e descompreender seu verdadeiro papel.

Arretado … como dizemos aki em Recife!!

:clap: :clap: :clap:

Perfeita a sua colocação Ivan !! :clap:
As vezes vejo ótimas fotos serem criticadas por detalhes técnicos irrelevantes ignorando o contexto geral e a mensagem transmitida.

Achei a colocação do Ivan bem pertinente e mostra a necessidade de sempre termos em mente o que é de fato a boa fotografia. Geralmente, se fala em boa fotografia avaliando-se apenas os aspectos técnicos. Mas considerando a amplitude dos papéis e funções que a fotografia assume, é preciso ou adotar algum tipo de critério ou hierarquizar a imagem ao seu propósito para se ter a real dimensão de sua qualidade.

A foto em questão para mim é boa tanto em termos estéticos como pelo seu valor documental. Não gostei da recriação, pela artificialidade da cena.

Isso é interessantíssimo, Rodrigo, os milhares de papéis que a fotografia pode ter. Isso é desbundante, porque nos retira o chão para análises “objetivistas”. Você vê que há algo do referente neste foto que é pungente, a ascensorista em sua posição meio entregue, meio subjugada por uma situação mas sob sua posição e expressão se entrevê uma moça com seus sonhos e desejos.

Esta é uma das razões pelas quais, sem absolutamente considerar que fotografia é mera transcrição do referente, ela também nunca é independente dele.

A fotografia é a última arte figurativa completa. Isso é sua glória, é sua loucura em um mundo que superou o figurativismo há mais de cem anos. E nela a figuração, a representação permanece de forma completamente subversiva, aguda, surrealista.

Você tem razão, a primeira fotografia é boa sim. Quanto mais olho para ela, mais gosto.