Todo mundo odeia o ruído

Uma pergunta simples, talvez pueril até… Mas por que todo mundo pegou o pobre do ruído pra Cristo? Por que ele é tão importante assim nos ditos ISO’s altos, agora tão necessários?

Explico-me: Na época do filme (considerando a qual ele foi soberano) qualquer filme acima de 200 ASA (até alguns desses) granulava bastante e todo mundo achava bonito, poético e até hoje é visto assim pelos amantes do filme - entre os quais me enquadro. Vi uma foto em 3200 ASA de duas modelos desfilando e mal dava para ver os detalhes do rosto, e sabe onde ela estava? Na National Geographic. Hoje em dia ficam inspecionando em 100% para ver se acham algum pixel errado, como se isso fizesse a mínima diferença na narrativa fotográfica. >:(

Gostaria de saber se os senhores podem me ajudar a elucidar a diferença de pensamento que há entre os chamados “fotógrafos” de hoje com os de outrora… Antigamente, o filme ERA assim, hoje em dia isso é um defeito… Bom, digo baseado no endeusamento que vejo em relação ao filme hoje em dia; não acompanhei a história desde tempos antigos… :assobi:

O ruído é editável então podemos tirá-lo ou colocá-lo conforme queremos. Eu particularmente não gosto da falta de nitidez em ISO alto.

Rahmati. Nao acho que a coisa seja tao 8 ou oitenta. Da minha parte, o gosto ou nao do ruido vai depender de cada foto. Tem fotos que ficam melhores com ruido e fotos que ficam melhores sem ruido. Pessoalmente, gosto de retratos, principalmente em P&B com ruido. Ja para paisagens noturnas, por exemplo, eu nao curto. Dificil tambem eu curtir um retrato colorido com ruido de ISO alto. A cor fica muito desbotada. Mas nao acho que exista um preconceito generalizado contra o ruido. Ja postei muitas foto com ISO 800 e velocidades baixas aqui no forum, ou seja, ruidosas levando em conta meu equipamento, e ninguem nem comentou do ruido. Nao acredito nessa de aumentar 100% para verificar se tem ruido. Esse tipo de coisa acontece normalmente na analise de equipamentos, a fim de testar altos ISOs e qualidade do equipamento. Ja para a analise de fotos isso nao acontece.

Ah, Spider, conta sim. Não sei aqui, mas no outro fórum a primeira coisa que comentam é o ruído… rs

Agora, Leandro, será essa a questão central então? A nitidez? Por que a foto tem que estar com a nitidez no talo? Isso é tão importante hoje em dia, não é? Em tempo, será esse o ponto também? O filme tem grão, porém é nítido?

Ate posto aqui o link de algumas fotos postadas no forum em que acrescentei granulação para dar certo charme as fotos: Karaokê

Acho que tem a ver sim. A qualidade das fotos em analogicas, mesmo com ruido, é bem superior do que a qualidade das digitais em altos isos

Dos 3 princípios básicos da fotografia (abertura, velocidade e ISO), o ISO é o único que realmente mudou “fisicamente” da fotografia analógica para a digital. O ISO da digital tenta simular o ISO da analógica. Na prática é a mesma coisa, mas o resultado não é o mesmo, tanto é que não se precisa de ISOs tão altos em analogica. A começar pela latitude, que permite resultados melhores em analógica. Sei lá, eu com analógica nem usava fotometro e mesmo assim a exposição era quase sempre certa, mesmo em situações totalmente diversas. Na digital, qualquer ponto a mais ou a menos já quase “perco” a foto…

O bentido 100% também favoreceu pro povo ficar mais exigente.

Isso é verdade, do ISO analógico. Com filme ISO 100 fuleirinha da Fuji eu tirei foto até de noite em luz incandescente e deu certo, na digital é 800 e olhe lá…

Vejo diferenças aí.
Eu defino assim: no filme é granulação; no digital, ruído.
Granulação é efeito; ruído é defeito…

E em ambos os casos é inevitável. Ruído, com algum tratamento simples, fica muito semelhante a granulação. Portanto, o argumento do rahmati continua totalmente válido :wink:

Granulação de filme é completamente diferente de ruído digital, não sei porque a turma tem mania de confundir as coisas.

A granulação é diferente por vários motivos:

  1. É completamente aleatória, tanto em frequência quanto em tamanho e orientação do grão.

  2. É uniforme e não introduz componentes de crominância (muito pouca na verdade, em alguns filmes antigos coloridos

  3. Filme não tem ruídos “matemáticos” como artefatos

O ruído eletrônico AUMENTA com tempos de exposição maiores. O grão pode ser controlado com a temperatura da revelação e pelos próprios tipos de reveladores. O grão pode diminuir com exposições mais longas.

Enfim, o comportamento é muito diferente.

Hum, isso é interessante. Não sabia que o grão diminuía com o tempo de exposição… Mas na verdade, afshalders, a questão nem é essa.

O verdadeiro questionamento imbutido no meu blablablá é sobre a busca cega pela nitidez e pelas imagens com cara de plástico. Ultimamente, as imagens sem graça e com exposição corretíssima chamam mais atenção do que as fotografias com alma e ruído/grão (eu sei que são diferentes, mas resultam do mesmo fator quase sempre, ISO alto)…

Muito legal a exposicao de conhecimento tecnico sobre o assunto, mas me parece que eh totalmente irrelevante aqui. A ideia era de fazer uma comparacao, e nao uma equivalencia. E soh para esclarecer ainda mais, nao eh uma comparacao entre o grao em si e o ruido, mas sim sobre as expectativas dos fotografos.

E eh obvio que essas caracteristicas tecnicas que vc expliocu detalhadamente sao diferentes, por que afinal, um filme eh filme e um sensor digital eh um sensor digital.

Realmente, também me encomodo com isso…
Claro que gosto é gosto, mas muitos definem grão ou ruído um erro fotográfico e não mais um tipo de linguagem que a fotografia nos oferece. Acho que essa é a questão.
E apesar de tudo, muitas fotografias clássicas são bem granuladas, e extraordinárias!

É isso aí. Bem no ponto.

Alguém conhece Sebastião Salgado? Então.

rahmati

Vc levantou uma questao muito interessante mesmo, porem nao creio que vai encontrar um consenso ou pelo menos algo que indique o por que disso.

Minha visao sobre o assunto eh a seguinte: ja usei e ainda uso camera de filme (PZ-1P) e realmente me limito a filmes 400 ou no maximo 800 P&B.

Quando eu uso digital, a questao eh a capacidade do equipamento: se eu estou fazendo fotos com a camera em ISO100 e sao detalhadas e sem ruido, ao reduzir a minha luz, eu quero padronizar o meu resultado, ou seja, vou precisar do ISO mais alto que me permita o mesmo nivel de qualidade. O fato da camera te permitir isso, acabou virou um requerimento dos fotografos. Tipo, eu trabalho com fotografia em eventos noturnos. Antigamente, eu estava travado em ISO 400 por que era a limitacao do sensor. Mesmo com uma lente clara f/2 eu tinha problemas de velocidade OU eu tinha que aumentar o ISO ainda mais e perder nas cores e ruido.

Hoje eu tenho disponivel ISO 1600 e 3200 totalmente usaveis, entao as minhas opcoes como fotografo aumentaram nesse sentido. Eu acredito que isso, junto com o marketing pesado dos fabricantes de camera que estao sempre empurrando o maior ISO como referencial de venda, criou essa mentalidade entre fotografos para a busca do maior ISO “limpo” no mercado.

E eu nao vejo absolutamente nada de errado em buscar isso, desde que vc precise (por que tem muita gente que compra cameras por specs -ISO 12800 e 10 FPS mas nem realmente tem a necessidade para isso).

E o fato de vc ter ISO alto nitido e sem ruido nao necessariamente exclui a opcao de ter uma foto granular ou ate mesmo com ruido. Ja no filme a limitacao existe.

Por exemplo, peguemos uma situacao na qual vc precise fazer um retrato em local escuro e vc esta no limite da lente e soh resta ISO e Tv. Com uma camera de filme, vc usaria um 800 e teria o Tv no limite, e vc nao tem opcao se vai querer ou nao o grao, por que nessa situacao vai ficar granulado. Okay, vc ja sabia disso e aceita comfortavelmente e a vida continua.

Ja na midia digital atual, vc pode simplesmente utilizar ISO 3200, garantir o Tv ideal para congelar o retrato, e no fim do dia vc tem DUAS opcoes de resultado: vc pode manter a foto sem ruido/grao ou vc pode simplesmente adcionar o grao desejado.

Entao respondendo a tua pergunta mais diretamente, eu nao creio que a “corrida” de hoje seja CONTRA o ruido/grao no resultado FINAL. Na minha opniao, a corrida na realidade eh para se ter MAIS alternativas no processo, o resultado final fica por conta da visao do fotografo (sem ruido/grao ou com ruido/grao).

Nao acho que fui claro ainda, mas no meu ver, a busca eh pelo MAIOR ISO sem ruido, por que este ISO te permite fotografar em situacoes que um sensor sem essa opcao nao te permitiria. E eh obvio que a base tem que ser limpa, sem ruido. Pense nisso: antes de vc decidir se quer ou nao um ruido/grao na foto, vc precisa CONSEGUIR tirar a foto, nao eh mesmo?

Como eu mencionei antes, após o tratamento o ruído digital fica muito semelhante à granulação, exceto talvez para os casos de filmes > ISO 400, onde o grão é maior.

Tudo o que você disse está tecnicamente correto, porém entendo que o que realmente importa é o resultado final, na imagem, e é aí que o fato de considerar o ruído (após tratado) um “defeito” fica sem sentido.

Eu não vejo problema algum em ruído/granulação em trabalhos autorais/jornalísticos/artísticos, pode fazer parte da linguagem e da tradução técnica do autor. Mas o fato é, o ruído digital é FEIO, se não for bem tratado gera uma interferência negativa SIM!

Em imagens “técnicas” é mais difícil encarar o ruído como elemento da linguagem/estética.

Vai de gosto e linguagem, eu curto fotos sujas, é como gosto de clicar, então várias das minhas fotos são ruidosas propositalmente,só que isso tem ligação direta com o que quero entregar.

Tem situações em que a imagem deve ser totalmente nítida, sem ruído.

Cada foto pede um tipo de resultado e deve agradar a quem clica (e possíveis clientes). Não imagino hoje fotos de moda, casamento ou produtos sem o máximo de nitidez, pq isso tem a ver com o estilo de foto, o mercado pede isso, mas pra jornal, alguns trabalhos autorais, etc… tanto faz.

Legal, estou mudando minha impressão… - sobre as pessoas, não sobre o ruído -rs. Minha linha de pensamento e de estudo é bem por aí mesmo, no âmbito que o BBear explicou tão bem.

Resumo perfeito da ópera. Eu taco grão na foto (digital, óbvio), mas primeiro eu tiro todos os artefatos gerados pelo jpeg e pelo formato digital em geral. Faço a foto ficar limpa para depois granulá-la.

Enfim, chego à conclusão que quem critica ruído/grão pela moda que isso se tornou não tem ainda o amadurecimento fotógrafico necessário.