Uma pessoa precisa de "clima" para fotografar?

A pergunta pode parecer meio besta, é sobre o processo de criação. Fiquei curiosa para saber como isso funciona com os fotógrafos.

Já ouvi escritores falarem sobre fases da vida em que nada produziram, por um motivo ou por outro. Já vi também compositores afirmarem que só fazem música se estiverem num determinado “estado de espírito”, uns dizem que quando estão tristes e melancólicos produzem mais, outros dizem o inverso.

Pois então como é que isso funciona na fotografia?

Além disso, tem a questão profissional, quem vive de fotografia, não pode se dar ao luxo de dizer ao cliente: “- Olhe, hoje, eu não poderei fotografar o aniversário de 15 anos da sua filha e, por isso, não honrarei o contrato, pois acordei triste pra burro, minha mulher me veio com aquela história, sabe aquela história da música ‘Tenho asas meu amor, preciso abri-las. Ao seu lado, nao sou muito criativa…’. Pois então, isso me deixou mal pra caramba, então resolvi fazer como o amigo, ‘tomar uma providência, pra começar lá no bar do Seu José. Para ver se exorciso este domingo, céu nublado e esta mala que não larga do meu pé’”.

Brincadeiras à parte, como isso funciona na fotografia? Nunca li nem vi nenhum fotógrafo falando diretamente do assunto.

Particulamente acredito que não, não creio que tenha que está “inspirado” para fotografar, sou mais daquele que a melhor foto ainda está por vir, e de um momento inesperado, mas claro:

-Tem dias que parece que tudo conspira contra e não sai nada que presta, se bobiar tem uma núvem de chuva exclusiva para voce :aua:

-E, tem dias que até clique acidental com a câmera pendurada no pescoço virada pra trás sai bom :eek:

É o que eu penso, ou não ( :hysterical: )

Só posso falar sobre mim mesmo… Sou amador, portanto posso me dar ao luxo de escolher quando fotografar. Desde que comecei a fazer isso com mais frequência e organização, há 4 anos, tenho passado por um dos períodos menos férteis, não tendo feito nada bom nos últimos meses. Eu, no entanto, gosto de fazer fotos com algum tipo de propósito definido, então se a idéia não vem, o processo todo fica empacado e só fotografo ocasionalmente momentos cotidianos, mas com bem menos cuidado e afinco. Portanto, acredito sim que o “estado de espírito” pode influenciar na quantidade e na qualidade da produção, mas isso pode também variar de pessoa pra pessoa.

Como autor: “Sim, sim e sim!!!” Tenho dia pra fotografar e tenho dia pra ficar “putzo” com a fotografia e me achar um grande “melda”. Pra mim, tem muito a ver com o estado de espírito e também com a luz (não, não uma luz técnica, uma luz que me agrade particularmente, não sei explicar). Então aí ajuda o objetivo, a foto criada em casa, com a cabeça no travesseiro, mas há de haver um estado de espírito propício, senão para a execução técnica, para a disposição em enfrentar as adversidades em seu caminho.

Como profissional comercial:
De jeito nenhum, a foto tem que sair. Técnica à parte, que é um pressuposto (é assim que escreve?) indispensável, se alguma coisa está errada no humor, essa coisa tem que ficar em casa. E o mais importante quando ela está difícil, é não desanimar e não se contentar com “meios resultados” ou se preocupar com o que o cliente vai pensar com tantos disparos para uma única foto. É preciso cavar a foto até ela sair.

O mais importante nos dois casos, o que aprendi, e que funciona comigo, é não seguir muito o raciocínio. Se é pra fotografar, tem que “cair pra dentro”. Não pensar se o dia é bom ou ruim, dedo no botão!!!
Certa vez andava decepcionado com meu trabalho autoral, com a falta de produtividade e com a quantidade de fotografias ruins e pobres que trazia para casa. Então num dia de pura revolta, sai no meio da chuva pra fotografar. Parei o carro num ponto qualquer da orla da praia, sem ficar escolhendo. Foi uma hora exata clicando (16h51 o primeiro clique e 17h53 o último), a chuva parou, o sol apareceu entre as nuvens no final da tarde e fiz 231 cliques (claro, usando disparos sequencias) dos quais 40 ou 50 me agradaram muito em 15 sequências de assuntos diferentes. Foi meu momento mais produtivo. Não parei um segundo para pensar na fotografia possível, segui o instinto apenas, abordei pessoas sem timidez, troquei lentes sem preguiça… Que dia!

http://www.santos.fot.br/fotos/autoral/14a.jpg

A chuva voltou quando retornei para o carro.
abç

Eu acho que tem o lance de inspiração sim. Isso me influencia bastante e ás vezes varia conforme o assunto, de repente o dia é para paisagem e não para retrato. Como eu sou amador tudo é perfeitamente contornável mas para um profissional deve ser mais complicado.
Marcelo Favero,parabens ,bela foto.

Continuo lendo a opinião de todos, é bastante intrigante como cada tem um método diferente de produzir. Esses métodos não só revelam um pouco das preferências de cada um, como também um pouco da concepção fotográfica.
Obrigada por sanarem um pouco da minha dúvida e me lembrarem que pregüiça é o antônimo de fotografia.
Continuo aqui na expectativa de saber como outros colegam pensam a questão.

eu preciso de inspiração para fotografar, até porque essa inspiração estám intimanente ligada a disposição física de sair em busca de uma boa foto.

sou do tipo que se tiver sem vontade nem tiro a cãmera da bolsa. e já tive ocasiões assim, que que sem inspiração nehuma para fotografar, saí em passeio com amigos e fiquei o tempo todo só batendo papo.

Essa semana adiei um ensaio por estar gripado e com febre alta, nesses casos extremos de
morte de um ente querido, emergencia ,ou chifre mesmo …rs
É só contratar um frela a altura e comunicar aos contratantes.Acho melhor fazer isso do que comprometer as fotos de seu cliente e sua reputação.

Comigo tem alto e baixo, sou amador, não tenho compromissos, e já aprendi há muito tempo que isso é assim. Sem stresses.

Se fosse profissional, bem não consigo me imaginar profissional da fotografia, aí teria que cumprir prazos, fazer o que os outros querem, etc. deixava de ter piada :slight_smile:

Eu fotografo melhor quando estou inspirado e principalmente, concentrado. Minhas melhores fotos são as planejadas. Quando já tenho uma idéia na mente do que quero fazer, eu vou “buscar a foto” e normalmente volto feliz com o resultado. Mas nem sempre é assim. Há casos e casos. Muitas vezes acontecem “coisas inesperadas” diante dos nossos olhos e quando estamos preparados (com a máquina na mão) é só alegria. Outras vezes, simplesmente, não tenho saco para fotografar. Acho que tem hora que preciso de um “descanso” como fotógrafo. Não gosto de me sentir um escravo da máquina fotográfica. Gosto de fotografar por prazer. Já saí várias vezes com máquina e não fiz nenhuma foto. Também já saí para lugares ditos fotogênicos e deixei a câmera em casa. Há tempo pra tudo. No meu caso, acho melhor isso do que sair disparando sem sentido e fazer bobagem.
Há muitos fatores que contribuem para uma foto legal e um deles é a inspiração. É bem verdade que quem conhece bem a técnica pode tirar leite de pedra mas quem tem técnica e está inspirado faz trabalhos com arte.

Concordo com o que vários disseram…

Algumas vezes saímos prá fotografar, em grupo ou só eu eu o Paulo, mas a inspiração ficou em casa. Nesse caso nem insisto, não fotografo. Fico só conversando. As vezes ela demora, mas resolve aparecer. Para minha alegria.

Já aconteceu também de sairmos sem rumo, e o Paulo resolveu fotografar uns grafites, pela cidade, que ele gosta… Nesse dia nem desci do carro… Não foi um assunto que despertou meu interesse e minha inspiração.

Não sou profissional, fotografo por prazer, por isso também posso me dar luxo de dizer… Hoje não estou a fim…

Concordo 150% com o Marcelo! Profissionalmente não posso deixar meu cliente na mão, mesmo não estando inspirado conheço a técnica e a utilizo para obter o resultado que meu cliente quer. Mas claro quando a inspiração encontra a técnica é o melhor dos mundos, pois ai nem estou trabalhando, estou sendo pago para me divertir. Tudo bem que isso acontece poucas vezes, mas a fotografia como arte depende sim de inspiração.

Já teve passeio fotográfico em que fiz umas cinco fotos, só para justificar estar com a câmera e já teve o contrário também. Teve dia em que eu estava voltando do trabalho e parei para tomar umas cervejas com uns amigos e depois saí que nem um maluco tirando foto pela madrugada carioca. Já fotografei até a Praça Tiradentes de madrugada. E quem disse que Deus não protege os bêbados?!? :hysterical:

s

Formel

Uma coisa É ENGRAÇADA. Não importa se vc concorda com opniões já citadas, que sente uma coceira na mão pra escrever a mesma coisa [já dita] mas com as próprias palavras.

E eu vou falar o que os de cima falaram, com minhas palavras.

kika!
Segundo o que eu penso, vc acertou.

O profissional tem isso. E é possível que mesmo doente, um pouco impossibilitado, tenha que resolver suas obrigações.[com a palavra, os profissionais.]

Quem não é profissional da área faz o que quer e como quer. Não se importa tanto com o custo, desde que este não inviabilize o divertimento. De acordo com a ‘permissão’ de sua situação (é um divertidor) as flutuações de inspiração não o prejudicam, a não ser que ele se sinta mal por não conseguir fazer o que queria.
Mas falo particularmente do caso em que vc está um tempo (dias, meses) ocupado com outra coisa, trabalho, então não consegue administrar o tempo pra fazer várias coisas, estudar outras coisas… etc

Acho que uma coisa é mais ou menos certa. Essas instabilidades de inspiração trazem um certo incomodo. Acho que quando não conseguimos realizar algo que queremos nos frustamos.
Estou escrevendo isso pensando em mim, em dois hobbies que tenho.

Tem clima pra estudar tbm!
Pra produzir no trabalho…
Tem inércia…
Tem tanta coisa!

De vez enquando fico pensando que pensar é bom. É fundamental pra formar opinião sobre as coisas, filtrar, idéiais, criar etc
Mas também acho fundamentalíssimo, mais do que saber pensar, é saber quando tem que parar de pensar!

não sei como acontece com as outras pessoas, mas acredito que existe sim o momento de grande inspiração na vida de qualquer pessoa que trabalhe com artes visuais e a fotografia não foge da regra, penso que nos momentos de pouca inspiração você faz uso da sua tecnica e faz o famoso “arroz com feijão” já em momentos de inspiração você consegue um angulo melhor ou ate mesmo o “grande momento” pois você esta mais focado e confiante no seu trabalho.

valeu pelo topico, é algo bem polemico!

Hehehe!

Essa questão de obrigação eu deixo para as exigências do meu trabalho lá na universidade (assistente técnico administrativo)e para a minha faculdade, que já tá me rendendo umas consultas no psiquiatra!

Agora como eu to começando com fotografia e como é um hobbie, eu vou lá e meto o dedo na d90, e depois volto olhando o que tá errado o que deu certo o que eu estou pecando.

Acho que pra tudo na vida precisa de inspiração e motivação e para tudo isso varia.
Do advogado que precis argumentar, que mesmo que tenha esquemas prontos, precisa ir lá e selecionar os julgados que lhe servirão melhor, pro juiz que precisa estar atento, pro funcionário que filtra dados, e por que não para aqueles que lidam com arte diretamente? Não é fácil né, se fosse fácil ninguém precisaria contratar um profissional…

Com certeza acho que todos tem razão e tem opiniões semelhantes.
Como profissional, não se pode deixar abater, siga um script técnico que seu cliente sai satisfeito.
Como diversão a história é outra. Separo minhas fotos cronológicamente, e vi recentemente uns diretórios e percebi que em alguns meses foram mais de 1200 cliques particulares, e em outros 50.
Essa diferença (24 vezes) decorreu desses períodos inférteis.
Motivação é uma coisa que não se passa para outros, apenas se estimula (quando se consegue).
Atualmente estou, entretanto, num bom período, rindo de fratura exposta com meu novo brinquedinho (D5000).

Abs

Ah, sei bem o que é isso!!

Deixava não Alfarrob, o segredo é fazer o que os outros querem do seu jeito! E então os outros vão querer trabalhar com você por causa desse “seu jeito” de fazer. Então, como disse o Formel, ganhasse para se divertir!

Abç

Fotógrafo amador que sou, às vezes passo semanas sem dar um clique. Então, só fotografo quando dá vontade, e mesmo assim muitas vezes só sai caca, mesmo me achando “inspirado”, “no clima” ou qualquer coisa assim.

Li muito tempo atrás que alguns escritores seguem uma rotina interessante: trabalham como se fossem empregados, acordando em horários certos, vestindo uma roupa para “ir” ao trabalho, cumprindo até mesmo horário. Nesse caso, não esperam a inspiração, antes disciplinam seus talentos para produzir sempre. Claro, com altos e baixos, mas sempre com uma “produção” constante.

Creio que fotografar profissionalmente seja a mesma coisa. Os fotógrafos acabam é disciplinando suas atividades de modo a “sempre fazer o serviço”, com uns dias sendo mais produtivos que outros.

Não que eu me julgue escritora, mas eu fazia isso quando estava escrevendo a dissertação e depois a tese ou sempre que tenho que escrever algo, como agora que estou escrevendo verbetes biográficos para DHBB, bem mais lentamente porque fico por conta da Alice. Mesmo com todo esse ritual, tinha, tem vezes que eu ficava o dia inteiro num único parágrafo, mas não saia dali de jeito nenhum pois da mesma forma que a coisa não rendia, tinha horas que rendia do nada. E pior não é isso. Pior é escrever mais de 400 p. e terminar a tese com a sensação, que aumenta a cada leitura, de que deixou a desejar. Mas, enfim, é um processo meio extenuante e um pouco diferenciado.

A fotografia, pra mim, depende de um certo ânimo para levantar a b* da cadeira e me colocar em movimento. Depende de um outro tipo de estímulo. Depois de ficar o dia inteiro no computador a trabalho, com a cabeça fervilhando, às vezes não tenho muito ânimo pra pegar a câmera, dar um reset no cérebro e sair pra rua, ainda mais se o trabalho não está concluído e o pior é que ele nunca acaba. Embora se tivesse que escolher entre as duas coisas, preferiria a segunda certamente. Por isso que, vira e mexe, eu venho aqui encher o s* de vocês, é uma forma de não me desligar do assunto predileto, mesmo quando não tenho tempo só pra ele.

Mas, é claro, que uma rotina, inspirada ou não, ajuda muito qualquer atividade. Ir atrás da foto dá mais certo do que ficar esperando-a sentada.

adoro os seus tópicos, kika!

escrevo pouco por aqui, leio muito. resolvi responder este tópico.

uma vez, eu saí acompanhando a editora da revista em que eu trabalhava pra fazer um perfil do designer de móveis sérgio fahrer. o cara é absolutamente fantástico - móveis e projetos premiados ao redor do mundo, reconhecimento na sua praça, grana etc. e, quando perguntado sobre seu processo criativo, o cara disse que sentava numa cadeira e rabiscava durante 8 horas diárias.

algumas pessoas divagam sobre a proporção de transpiração e inspiração que leva ao talento ou ao sucesso (no sentido de êxito, não de fama). acabo pensando que cada um tem a sua, oras.

mas creio que um passo importante para se chegar a esse sucesso é fazer o que gosta - como já foi dito por aqui. já me senti, algumas vezes, sem uma vontade muito grande de começar uma cobertura de evento ou um retrato. mas, não sei ao certo em qual momento, a paixão pela fotografia me parecia sempre superar qualquer obstáculo. por mais piegas que isso possa parecer, era essa chama que me fazia encarar o trabalho como um desafio a ser conquistado.

trabalhei durante algum tempo como professor, também. consigo traçar um paralelo perfeito com esse assunto. era muito fácil chegar na sala e dar uma aula meia boca, sem preparo, sem motivação. mas ao ver uma centelha de felicidade pelo aprendizado no rosto de um aluno, eu me via numa situação quase impossível de não querer dar o melhor de mim e ganhar todos os alunos ao final do dia (muitas negativas na mesma frase. fez sentido?).

por isso, acho complicado relacionar a fotografia a esse negócio de inspiração ou clima. creio ter muito a ver com o seu conhecimento adquirido do processo - o famoso know-how - e o jeito com o qual vc lida com as situações - sejam elas pertencentes à sua profissão ou ao seu hobby.

acho complicadíssimo dar palavras aos sentimentos, mas acho que é alguma coisa por aí.

fico sempre feliz ao escrever por aqui. =)