[ARTIGO] A permanência da fotografia em preto e branco

Pensando no avanço da fotografia digital, me faço duas perguntas:
A. Porque ainda se usa a fotografia em preto-e-branco?
B. Porque a fotografia em preto-e-branco ainda é usada em casamentos e outros eventos?


Lú e os pontos de luz - Retrato de 1997

A. Porque ainda se usa a fotografia em preto-e-branco?

A fotografia nasceu em preto e branco, ou preto sobre o branco, no inicio do século 19. Todos os princípios da fotografia foram descobertos ou desenvolvidos antes do surgimento da fotografia colorida.

Desde as primeiras formas de fotografia que se popularizaram, como o daguerreótipo, aproximadamente na década de 1830, até os filmes PB (preto-e-branco) atuais, houve muita evolução técnica e diminuição dos custos. Os filmes atuais hoje tem uma grande gama de tonalidade, superior mesmo aos coloridos, resultando em fotos muito ricas em detalhes. Por isso as fotos feitas com filmes PB são superiores às fotos coloridas “transformadas” em PB.


Casamento de 2001

Com o surgimento dos filmes coloridos, popularizados a partir da década de 1960, muito se falou no fim da fotografia preto-e-branco. Mas nós sabemos que isso não aconteceu e ainda hoje se usa muito a fotografia PB. Mas como ela sobreviveu? Porque ainda se tiram fotos em PB se existe filme colorido? E agora, com o advento da fotografia digital?

Alguns fatores que contribuíram para isso:

  • a fotografia em PB se tornou uma opção artística
  • os filmes PB tem maior riqueza de tons
  • a falta de cor torna a imagem registrada mais distante do nosso olhar (colorido), o que facilita a busca de um registro além da realidade, ou de uma outra realidade. Seria a poesia fotográfica
  • a fotografia em PB facilita a abstração das imagens, o que nos permite criar algo que não é um registro, mas sim algo novo, algo por si mesmo, enfim, arte
  • Uma fotografia PB dura mais tempo, aproximadamente 200 anos, contra 100 da colorida.
  • a fotografia em PB e tornou um diferencial
  • a fotografia em PB desperta saudosismo
  • sem a presença das cores podemos perceber melhor as formas, expressões e tonalidades
  • outros aspectos ainda poderiam ser destacados, já que cada pessoa pode ver outros fatores


Faixas - 2008

Com a fotografia digital ficou bem mais fácil e barato fotografar em PB. Pode-se tirar as fotos em cores mesmo, e depois convertê-las para PB no computador ou até mesmo tirar as fotos já em PB, usando o filtro da câmera.

B. Porque a fotografia em preto-e-branco ainda é usada em casamentos e outros eventos?

Quando nos preparamos para casar, nos preocupamos muito em registrar esse dia tão especial e maravilhoso, por isso procuramos um fotógrafo. Mas não queremos fotos quaisquer, e não queremos fotos comuns, como aquelas que costumamos tirar nas férias ou em aniversários das crianças. Queremos fotos de qualidade, sensíveis, diferentes e originais. Por isso procuramos um profissional.


Casamento de 2004

Mas se queremos fotos que realmente se diferenciem, que sejam “artísticas”, “jornalísticas”, românticas e sensíveis, poderemos pensar em fotos PB. Isso porque as fotos PB tem um clima mais atemporal, eterno, assim como esperamos que seja nosso amor. O casamento de certa forma deve ser em preto-e-branco, pois durará mais tempo, terá uma aparência que não envelhece, será diferente, admirável e sensível, e poderemos prestar mais atenção à sua forma do que suas cores. Você já reparou como as fotos em preto-e-branco transmitem mais emoção? A falta de cor pode revelar outras coisas!

Yuri Bittar
Designer, fotógrafo e historiador
Atualmente ministra o curso A fotografia e a Cultura Visual
Site pessoal:

Yuri;

Gostei do texto, embora ele contenha uma idéia com a qual não concordo que é uma insinuada superioridade da fotografia PB sobre a fotografia em cores.

Por que alguém desenha com lápis preto quando existe uma caixa de lápis de cor? Por que alguém faz aguadas de nanquim, quando poderia fazer aquarela?

Não é uma resposta técnica, é uma resposta relativa ao modo de expressão.

O PB parece um pouco com o desenho em nanquim. Ele é evidenciador do desenho, das linhas, das ruturas tonais. Desenha-se em PB simplesmente porque se gosta, e o resultado não é superior nem inferior ao do desenho colorido, é simplesmente submetido a regras diferentes de comunicação, a convenções visuais um pouco diferentes.

Gosto da fotografia em PB, mas não gosto especialmente, porque minha preferência de descrição ambienteal é muito dependente de tonalidades coloridas. Há certos assuntos, contudo, que ganham na fotografia em PB sua melhor representação. Isso vai da inclinação da pessoa.

A representação visual em PB existe em todas as artes visuais, e não é substituída pela colorida. É só outra coisa.

Ivan, perfeito o que você disse, é isso mesmo, assino em baixo! Talvez eu não tenha explicado bem, mas a superioridade do PB é apenas em relação aos filmes, ou seja, os filmes PB tem uma certa superioridade em relação aos filmes coloridos, quanto à escala de tons. Apenas isso. Claro que com o digital isso se nivela. Abraço!

Yuri;

Deixe-me só acrescentar uma coisa…

Hoje em dia, pelo fato da fotografia digital nascer colorida e ter um tipo de captura que é quase o opoto da fotografia em PB quanto à curva tonal, temos uma safra de conversões que chegam a incomodar pelo tanto que são monocromáticas sem referência na estética PB. É como se bastasse converter uma foto colorida e ela virasse um PB…

Penso que hoje, embora não tenhamos as injunções do filme, quando fazemos PB estamos em diálogo com a tradição do PB oriunda do filme. Essa tradição criou uma estética, estética essa derivada da curva de captura dos filmes, de sua melhor resposta, de seus limites, enfim, da característica do meio.

Isso perdurou por muito tempo e criou um acervo histórico muitíssimo importante para a fotografia, talvez mais importante que o acervo colorido criado em filme. E esse acervo contém esse elenco de solução estéticas.

Ao fazermos PB digital, então, não estamos diante de uma planície inexplorada, mas sim diante de um caminho já marcado, sinalizado. Querendo ou não precisamos entrar em diálogo com essa estética consolidada. Nossa fotografia digital em PB cita essa estética, embora, é claro, novas possibilidades se apresentam.

Vemos muita gente que não tem experiência em filme, seja fotografando ou como observador atento de fotografias, que converte fotos e elas ficam “digitais”, ou seja, cheias de tons médios, pouco recortadas, empasteladas. Como a fotografia digital é sempre uma construção posterior ao clique, isso não é inevitável nem sequer pode ser considerado default. É pura e simplesmente uma ausência de referências capazes de guiar a conversão em direção a essa tradição-referência.

A segunda questão é que muitas conversões são gratuitas. Diante de algumas fotos convertidas ficamos a nos perguntar: por que diabos esse cara converteu para PB, se não há na foto nada que seja esscialmente PB? Porque a estética PB está apoiada numa exploração de cortes de luz, de desenhos e padrões, coisas que na fotografia colorida poderia não ter graça alguma mas que é vital para o PB. E há conversões para PB que não têm relação alguma com isso.

Só para ilustrar, posto abaixo uma foto minha pedindo desde já perdão por usar uma foto minha como exemplo. Mas é o seguinte. É uma foto capturada colorida (em RAW) e convertida e tratada. Ela em cores é completamente sem graça, visto ser a superfície meio ondulante definida pelos paralelepípedos o seu apoio formal. O que quero dizer é que essa foto é PB porque precisa do PB, não porque meramente foi convertida. Sua forma, sua mensagem formal, são essencialmente PB.

Exato Ivan, acontece que com o filme era preciso fazer uma escolha antes de fotografar, uma escolha que demandava tempo e dinheiro.
Agora a maioria fotografa sem se preocupar se vai ser cor ou pb, depois resolve diante do computador. Talvez seja uma falta de comprometimento, mas isso não acontece com todos é claro, mas há uma enxurrada de novos fotógrafos, é uma nova onda, o que tem um lado bom também, afinal alimenta a arte fotográfica com “sangue novo”!

O que o Ivan acrescentou está muito bem colocado. Tem um monte de PB digital aí que é apenas uma dessaturação do colorido. Não que esteja errado ou certo, é apenas uma questão de busca pela estética.

Eu particularmente tenho evitado converter aleatoriamente pra PB em digital.

Faço quando o momento ficou muito bacana e a foto ficou estourada em alguma parte, o que fica muito menos notável em PB. Converto também quando o momento foi bom mas há cores tirando atenção das expressões ou quando errei a fotometria e apenas um dos canais estourou.
Raramente, quando vejo uma cena e já a imagino em PB me dou essa liberdade.

E por que essa imposição?

Acho que a fotografia acontece até o momento do clique, o depois é necessário apenas para ajustar o que foi pensado. Não é raro pessoas fazendo foto em RAW e ficar tentando ver depois como ela fica melhor.

Já fiz isso e continuo fazendo às vezes, mas pra mim é um processo pobre de imaginação.

Em relação a PB e prefiro quando o resultado já esteja projetado entes do clique. “Vou fotometrar essa pra um PB bem contrastado nas sombras com as luzes altas próximas da saturação” ou “Quero um PB bem achatado, todo cinza típico de compactas digitais baratas”.

Eu ainda estou bem no início do aprendizado, mas essa forma é a que me permite o maior domínio do processo como um todo. A tentativa e erro sem critério só atrasa o processo de aprendizagem.

Abraços!

Oi Rogério, concordo com o seu ponto de vista e vou dizer que faço basicamente da mesma forma. Porém, como eu uso uma pentax de filme ainda, acabo agindo (pelo costume da pentax) igual na digital, regulo a máquina em P&B (JPEG) e faço a foto como se fosse com o filme. Outras vezes acabo agindo com o pensamento “digital”, faço a foto em RAW e simulo um filme P&B no Bibble, mas já pensando quando foi feita a foto que ela seria P&B.

Abraço!

Olá, eu gosto muito de tirar fotografias.
Mas tenho uma duvida: Há quantos existe a fotografia a cores? E qual é a melhor fotografia, a preto e branco ou a cores?

:dizzy_face: Cruzes…

amigos, uma pergunta básica, que pode parecer tola aos olhos dos mais experientes em fotografia.
Hoje, com todas as técnicas de edição digital, é melhor fotografar já em preto e branco ou melhor fotografar a cores e depois processar no lightroom ou outro editor?
na minha ignorância, normalmente fotografo a cores e depois processo para preto e branco, mas, em geral, não gosto do resultado. acredito que haja uma lógica da fotografia p&b que ainda não captei.
abraços!

Se fotografar em RAW, não vai fazer diferença ser em PB ou Colorido.

Abcs

O que seria melhor é fotografar com filme preto e branco, onde cada filme vai te dar uma foto totalmente diferente de outro filme, cada processo de revelação vai dar ainda outro resultado no mesmo filme.
Problemas: comprar filme, escanear filme, revelar filme. Tudo terá uma curva de aprendizado.

Se for fotografar com digital, o melhor é fotografar em RAW (que é colorido, acho que p&b direto só na leica monochrom) e na conversão para p&b ajustar cada canal de cor separadamente até você ter o efeito que quer.

Eu acho que é uma opção de cada um, temos aí uma gama de fotos coloridas excelentes e a história nos mostra outra gama de fotos espetaculares em P&B. Continuo achando que é uma opção.

NAda haver com o que o cara perguntou.

:no:

Adriano,

Eu seto a minha câmera para gravar RAW+JPEG e ponho a câmera no modo PB. Esse modo PB só vai influenciar na foto JPEG mas a vantagem é que depois eu tenho a memória do que eu pretendia fazer e já sei na hora mais ou menos o resultado que vou ter.
Quando vou “revelar” no Lightroom passo pelo SilverEfex Pro .

Detalhe: eu sempre faço PB pensando no PB já, não uso PB apenas para salvar uma foto que não ficou boa colorida.

Até onde sei, de fábrica, realmente só a Monochrom. Mas dá para converter vários modelos de máquinas para PB também. Sem o filtro Bayer na frente realmente existe uma diferença na imagem final.

Que alguém me de :fight: se eu estiver falando asneira mas…

Bayer não é filtro e sim padrão de distribuição dos photodiodos R/G/B nos sensores, e isso seria bem difícil de mudar…

A única conversão que conheço ATÉ o momento é para fotografia em IR onde é retirado o filtro para este tipo de onda…

Com relação ao tópico, FENOMENAL! Gostei muito do texto… Tem fotos que eu não gosto coloridas que quando passo pra preto e branco não tem volta…
Um “job” que fiz que rendeu muitas fotos coloridas foi quando um pastor me contratou para fotografar a comemoração de 10 anos da igreja dele, e em uns momentos de louvor tinham bastante pessoas emocionadas destacadas na multidão… Era preto e branco na certa… ISO no talo, lente aberta no talo mais preto e branco é combinação perfeita.

vrsilva, na verdade os sensores das câmeras são monocromáticos, então há um filtro colorido na frente do sensor, deixando passar apenas a cor adequada para cada pixel, de acordo com o padrão Bayer definido pelo fabricante. Há vários padrões, como RGBG, o RGBC (o C vem de clear, um pixel sem filtro de cor para capturar apenas luminância) ou RGBE (Esmeralda, um pixel num outro tom de verde para mellhor reprodução de tons, usado pela Sony há alguns anos), o X-Tran da Fuji, além de vários outros de uso mais específico.

T+

A matriz de cor é um filtro que é aplicado diretamente sobre o chip durante o processo de fabricação. O padrão original é RGBG. Os outros são modificações em cima do original, mas a idéia é a mesma, poder gerar por processos matemáticos, uma estimativa próxima das cores reais da cena, a partir de um sensor monocromático.

http://www.photomysteries.com/portugues/Photomysteries_BR/Sensores.html

Já disseram aqui, fotografe em RAW.

O desafio da fotografia P&B é que ela tem história, tem referências… que inflenciam diretamente no “padrão” de beleza P&B.