[ARTIGO] Fotografia amadora e consumo

Não é novidade para ninguém que o atual modelo econômico é baseado no consumo. Essa característica vem se acentuando nos últimos cinquenta anos, atrelando o desenvolvimento a níveis cada vez maiores de produção de bens e escoamento desse material. Isso leva a uma necessidade cada vez maior de que os consumidores comprem novos produtos. Existem algumas técnicas empregadas pelos fabricantes para atingir este objetivo.
Uma das formas mais eficazes é a obsolescência programada. Isso significa que um produto é desenhado para durar um determinado período de tempo e, após esse período, quebrar ou parar de funcionar de forma adequada. Isso é bastante comum entre produtos de baixo custo, que quando dão problema compensa mais trocar por um novo do que mandar consertar, por exemplo. Com isso, o consumidor mantém a roda da produção e do escoamento girando. Uma câmera fotográfica simples tende a durar muito menos do que uma câmera profissional, pois é como se você fosse obrigado a arcar com um custo extra para ter um produto que não terá que trocar depois de um tempo. De um jeito ou de outro, depois de um tempo, você acaba gastando uma quantidade semelhante de dinheiro para usar um produto (ou vários com a mesma função) por um determinado período de tempo.

No entanto, a obsolescência programada pode ser arriscada para a empresa, pois o consumidor pode mudar de marca por conta da quebra do produto. A técnica é efetiva quando o período é suficiente para que o consumidor compre outro produto, mas ao mesmo tempo permaneça satisfeito com a marca.

Uma técnica muito mais empregada em equipamentos eletrônicos não é fazer com que os produtos quebrem, mas que pareçam obsoletos, o que é chamado de obsolescência percebida. A maior parte dos fotógrafos não troca de câmera porque o seu equipamento quebra, mas porque acreditam que ele ficou antiquado e não atende mais as suas necessidades. As necessidades, é claro, são criadas pelo próprio mercado que precisa gerar um nível de insatisfação no consumidor suficiente para que ele troque de equipamento, a fim de atender as necessidades que ele não tinha antes. Esse é um processo contínuo, alimentado pelas “inovações” oferecidas pelo fabricante. Sobre esse tema, há no Multiply um .

Entre o lançamento de duas câmeras topo de linha da Nikon, a F (1959) e a F2 (1971), se passaram 12 anos. Entre as mais recentes topo de linha da mesma marca, a D2X e a D3, se passaram 3 anos. Só um ano separou o lançamento de duas câmeras profissionais da Canon, a 40D e a 50D. Como fazer com que os usuários troquem rapidamente de equipamento para manter esse sistema rodando cada vez mais rápido? Dizendo: você precisa de mais megapixels, mais qualidade, mais resolução, mais botões. Sua câmera já era, mas não se preocupe, pois temos uma nova. É só passar no caixa.

É claro que se olharmos de perto, vamos ver que pouquíssima coisa muda nos produtos e que as tais inovações são meramente cosméticas ou muitas vezes apenas um nome sofisticado. “Processador de quinta geração”, “foco ultrassônico”, “super estabilizador” e por aí vai.

Nesse momento, podemos pensar que não é possível que as pessoas não percebam isso e caiam nessa armadilha. Especialmente na fotografia, que afinal se trata de arte, não de consumo. Então vamos até uma lista de discussão sobre o assunto e argumentamos que as novas tecnologias não são mais que nomes bonitos ou no máximo algo para atender uma necessidade que não temos. A resposta de alguns é de que somos retrógrados, não aceitamos o novo, que as inovações são importantíssimas, fundamentais e que graças aos céus temos fabricantes tão preocupados com o nosso bem-estar. Vemos inclusive que os consumidores defendem com unhas e dentes essas mesmas companhias que os colocam num estado permanente de insatisfação e angústia com o único propósito de manter os seus lucros. E aí temos que admitir que as agências de publicidade fazem um baita de um bom trabalho.

A propaganda é a chave, pois é através dela que o consumo é incentivado. E ela não está apenas nos comerciais. Está nos filmes, nos jornais, nos discursos políticos. Lembro bem das minhas aulas de psicologia do consumidor, em que o truque era bem explicado: você tem que fazer o cara se sentir realmente mal com o que ele tem (mesmo que seja com o que você falou para ele comprar na semana passada), e em seguida mostrar que a solução está no shopping mais próximo. Basta abrir a carteira e levar mais uma caixa pra casa e você se sentirá ótimo. Pelo menos por meia-hora (ou até inventarem mais uma necessidade). E a coisa funciona muito bem.

Quando dei aulas de marketing numa escola técnica, lembro das definições dos livros: marketing é atender as necessidades dos consumidores com a geração de lucro. Eu não sabia exatamente por quê, mas aquilo não parecia se encaixar muito bem. Que necessidades são essas? De onde vêm? E o lucro? Pode ser criado infinitamente? Logo em seguida, já havia uma defesa dos marketeiros, dizendo que eles não criavam necessidades, apenas atendiam os anseios genuínos das pessoas. Dá quase para verter uma lágrima frente a tanta nobreza. Mas aí, lembramos: eles são publicitários! Fazer propaganda positiva da própria publicidade faz parte do negócio.

Nem é preciso dizer que esse modelo não é viável por conta da finitude dos recursos naturais do planeta (se você ainda não viu, confira o vídeo ). Além disso, provoca um impacto social fortíssimo em comunidades menos favorecidas, para bancar uma produção que é sustentada pela constante insatisfação e infelicidade das pessoas.

Mas será que todo esse modelo é compatível com a produção artística — em um nível pessoal, não mercadológico, ou cairemos no mesmo esquema — na qual a fotografia amadora séria está inserida? O que percebo, no entanto, é cada vez menos essa fotografia como expressão de ideias, sentimentos, estética e criação e cada vez mais como uma expressão desse consumismo. É preciso justificar para si mesmo o consumo, e quando o consumo é de equipamento fotográfico, é preciso fotografar. E, de preferência, de uma forma que seja convincente de que todo o gasto (sem o falso eufemismo de chamar isso de investimento) com esse material se justifica por fotos melhores. Fotografo uma textura para mostrar como a resolução da minha máquina é boa, um objeto em movimento para justificar a lente com foco ultrassônico, um pássaro preto à meia noite para ver como o ISO alto funciona e por aí vai. Ou seja, esse modelo é tão vicioso (embora incrivelmente eficiente) que ele contamina até mesmo a forma de fotografra, que deveria estar relacionada apenas à expressão livre e pura da alma do fotógrafo.

Não é fácil fugir disso, já que estamos envoltos totalmente por essa forma de fazer as coisas funcionarem. Mas podemos ao menos ser um pouco mais conscientes. Não aceite que uma propaganda diga qual é a sua necessidade, descubra você mesmo o que de fato você precisa. Não seja ingênuo a ponto de defender um fabricante, a única coisa que o move é o lucro, e fazer você acreditar que ele se preocupa com você é apenas mais uma forma de continuar obtendo esse lucro. Faça sua fotografia valer pelo conteúdo. Uma boa fotografia não depende de quinhentos megapixels nem de focos ultrassônicos, depende de alguém que use a câmera (seja ela qual for, é o que menos importa) com paixão, com vontade de dizer algo, de mostrar ao mundo qual é o seu ponto de vista. Com isso, você garante que ao menos a sua fotografia será um pouco mais livre.

Artigo muito interessante. Nos faz pensar não só em nossa “necessidade” de trocarmos de câmera, como também em todas as nossas “necessidades”, de papel higiênico a um carro de último modelo.

Pois é, Fernanda, acho importante esse tipo de reflexão. Vale a pena pensar o que queremos com a fotografia e especialmente, se temos a fotografia como uma forma de expressão, será que ela precisa ser tão dependente do consumo constante de novos equipamentos? Será que, ao ter um desejo genuíno de fazer algo melhor, não caímos na armadilha dos fabricantes que nos convencem de que para fazermos algo melhor precisamos de uma nova compra?

Rodrigo, é uma discussão que rende, concordo totalmente com seu texto, principalmente com a frase “…Faça sua fotografia valer pelo conteúdo. Uma boa fotografia não depende de quinhentos megapixels nem de focos ultrassônicos, depende de alguém que use a câmera (seja ela qual for, é o que menos importa) com paixão, com vontade de dizer algo, de mostrar ao mundo qual é o seu ponto de vista. …”

Acho que o mais importante disso tudo é pensarmos em qual é o impacto sistêmico disso, não só na fotografia, mas em todo o mundo em que vivemos. Tenho cada dia mais claro que se não barrarmos o consumo não teremos mais condições de sustentar nossas necessidades em muito pouco tempo.

É sempre bom discutir as engrenagens do consumo, seja na fotografia ou em qualquer outra atividade.

No entanto, observo um distância considerável entre a teoria e a prática.

Na teoria, a maioria das pessoas - exceto alguns apaixonados (paixão pra mim tem a ver com irracionalidade) - concordam que uma boa fotografia, num sentido mais amplo, não está atrelada necessariamente à equipamento de ponta, de última geração ou lançado na semana passada, embora com esses também se possam fazer boas fotografias.

Na prática, no entanto, as pessoas de modo geral colocam tais preocupações em segundo plano para satisfazer as suas necessidades de consumo. O consumo tem algo de irracional. Se temos como comprar, se temos dinheiro para gastar, criamos necessidades desnecessárias, se não temos também criados, só não compramos. Depois do momento de euforia que envolve o ato de comprar algo pelo simples desejo de consumir vem a frustração porque tomamos consciência, cedo ou tarde, de que a nossa fotografia não melhorou porque comprei uma câmera nova, com 500 megapixels, para substituir a antiga com 5. Também há aqueles que relutam tomar consciência da realidade e tentam se convencer e nos convencer de que fizeram um excelente negócio, que agora a sua fotografia tem menos ruído do que a antiga, além de uma série de outros benefícios. Não passa um ano, já colocam o equipamento à venda.

Emfim, o consumo, a propaganda, o marketing manipulam o que as pessoas têm de mais frágil e tenta suprir necessidades que vão muito além do ato de comprar, necessidades de ordem emocional, afetiva. Assim, vendem a ilusão de que comprando as pessoas serão mais felizes, mais realizadas e os problemas não mais existirão. É uma oferta sedutora, não há dúvida, mas que não deixa de ser enganosa.

RFP,

Muito bom seu artigo. :ok:

No meio dessa crise tenho lido vários artigos similares ao seu e acho inclusive que hoje o nível de conscientização está bem melhor do que antes.

Além de conscientizarmos as pessoas sobre os problemas ambientais que o consumismo trás, precisamos acima de tudo encontrar a
solução
pra mudar um sistema financeiro baseado no consumo, isso para que mais de 6 bilhões de pessoas que dependem desse consumismo consigam achar seu novo caminho…Infelizmente diminuir o consumo hoje acaba prejudicando muitas famílias pra conseguir o mínimo pra sobreviver.

Precisamos, construir um novo sistema, uma nova economia, com base no esporte, na diversão, no turismo, na prestação de serviços, alimentação, etc, etc…não precisamos tanto de carro.

Obrigado a todos pela discussão. Concordo com todos os pontos que foram levantados. Um novo sistema é necessário, até porque para que o atual entre em crise, é apenas uma questão de tempo (no mais tardar, quando findarem os recrusos naturais básicos para a produção). E acho importante a conscientização não apenas no nível sistêmico mas no próprio nível individual, pois o consumo desenfreado geralmente está baseado na questão da insatisfação com o que se tem, alimentada pela propaganda.

E aí, no campo da fotografia, o relato da Kika é bastante realista. Se compra uma câmera nova esperando um resultado melhor. Alguns detalhes mudam, mas a fotografia em si não é diferente. A satisfação gerada pela nova compra dura pouco e, como não houve aprimoramento no que se faz, há mais uma compra com a esperança dessa melhora e segue-se um ciclo infindável. E aí a fotografia, que deveria ser uma Arte, algo que aproxima o ser humano das suas idéias, dos seus sentimentos, da poesia, do belo etc. passa a ser apenas um motor do consumo, e as fotos feitas nesses esquema servem apenas para uma falsa sensação de confirmação do consumo (“fiz umas noturnas com ISO alto para mostrar como a câmera é boa”).

RFP,

Nesse caso eu já penso um pouco diferente, se o cidadão gosta de colecionar câmeras fotográficas ou caixinhas de cigarro, eu não vejo problema, ou mesmo se o cara não acha da fotografia toda essa arte e acredita que suas fotografias podem melhorar com um equipamento com menos ruído também é um direito dele…e nesse caso o grande prejudicado é somente ele.

O que me aflinge não se trata da relação que cada um tem com a fotografia e os equipamentos fotográficos, o que me aflinge são atitudes que prejudicam a sociedade e o meio que temos que dividir…os impactos ambientais gerados pela fabricação de câmera e lentes é desprezível, principalmente se comparado a fabricação e uso de carros…e as garrafas pets então.

Sei lá, eu acho que a solução não é somente ficar conscientizando as pessoas que o consumo exagerado é errado, nós precisamos buscar solução para a dependência que temos desse consumismo…se deixarmos simplesmente de consumir, estaremos minimizando os efeitos ambientais e aumentando os problemas sociais e é isso que precisamos resolver.

O Leo colocou uma das soluções…o governo dos US em vez de ficar ajudando empresas que estão afundando e que nunca tiveram respeito ambiental, eles poderiam investir em empresas boas e sustentáveis que estão nascendo.

Leandro,

Não há nada de errado em colecionar o que quer que seja. Também não estou críticando o consumo exagerado (embora ele também deva ser criticado). E não dá pra esperar do governo deste ou daquele país uma atitude que contraponha o modelo atual, já que eles estão comprometidos com esse modelo. O que estou apontando é o motivo do consumo. Os fabricantes estimulam o consumo de seus produtos através de alguns mecanismos:

  1. Fazendo crer que os equipamentos que possuímos são obsoletos;
  2. Fazendo crer que a boa fotografia só é possível com equipamentos novos;
  3. Incorporando nas câmeras recursos cosméticos mas que fazem crer que são indispensáveis.

Ou seja, o consumo é incentivado a partir da insatisfação e da premissa de satisfazer uma suposta necessidade que até ontem nem sabíamos que tínhamos. Estou falando justamente desse nível individual, pois ele é a base de toda a questão. Nesse ponto, é fundamental entender que o consumo é colocado como solução de problemas criados pelos próprios fabricantes e vejo esse ciclo como difícil de conciliar com uma produção artística significativa.

Eu não sou especialista em consumo nem na prática (por restrições de orçamento) nem na teoria. No máximo, leio uma coisa aqui, observo outra ali, mas nada levado muito a sério (a sério significa entender com profundidade como o consumo funciona, pesquisar o fenômeno e suas implicações diversas).

De modo geral, percebo que um dos principais argumentos para a sustentabilidade do consumo relaciona-se à demanda social, ou seja, quanto mais consumimos, mais empregos geramos. Nessa roda-viva, não há outro caminho porque uma vez que nós deixamos de consumir ou consumimos menos (quando isso é possível), pessoas ficam desempregadas e os problemas sociais aumentam ao invés de diminuir.

Esse argumento é muito válido na sociedade americana que tem o consumo como base da economia. Na menor hipótese de crise pede-se à população para não deixar de consumir, pois só assim a crise acabará. No Brasil, com uma distribuição de renda bastante desigual a situação tem suas peculidaridades. Tem um grupo de pessoas que consomem por uma sociedade inteira e outro que procura soluções para burlar as restrições de consumo. Interessante que esse é o grupo que, na prática, tem mais ações voltadas para a sustentabilidade do planeta, que mais depende da reciclagem do lixo, que (re)utiliza o lixo reciclável e também o descartável, enfim, que depende do lixo para a sua subsistência ou então que completa a sua renda com o aproveitamento dele. Observe que nem sempre, quase nunca, tais atitudes são derivadas de uma preocupação ecológica, mas sim de uma necessidade social. Só para complementar, eu fico um pouco constrangida quando vejo pessoas, grupos, ONGs, instituições, propagandas etc. se orgulharem de que no Brasil reciclamos cerca de 97% (ouvi isso num comercial de TV dia desses). Não que a estatística não seja motivo de orgulho, mas ela é sintoma de uma socidade carente, não de uma sociedade consciente. Mas, enfim, aqui caimos em outro problema.

Sem delongas, o que está na base do argumento de que o consumo gera renda e a renda gera consumo é a inércia do indivíduo, da sociedade que se vê dentro de um círculo que se quebrado, as coisas não melhoram, ao contrário pioram. Assim, é melhor consumir do que remediar e, pense bem, se as coisas estão ruins, elas podem piorar. Então, voilà, vamos às compras porque eu não posso viver sem um Juicer, sem uma máquina de pão (nesse mundo não há mais lugar para o delicioso pão da Zilda), sem um cortador de legumes com lâminas alemãs e muito menos sem uma câmera digital com 2.807 megapixels, afinal sabe-se lá quando eu vou precisar de uma ampliação de parede inteira daquela foto que fiz numa viagem a Firenzi - hoje paraíso do consumo de luxo, mas que em tempos remotos foi considerada berço do Renascimento italiano - que saiu um pouco desfocada, meio escura, cortei a cabeça da mamãe, a namorada reclamou que, na foto, ela ficou um pouco gordinha, mas enfim, é registro de uma viagem dos sonhos (de consumo, diga-se), então vale o investimento, vale até construir a tal parede.

Em resumo, o que eu quero dizer é que esse formato deve ser repensado. Alguém já deve ter feito isso e eu que desconheço, pois não é possível que não exista outra saída, que estamos fadados ao consumo irracional, a depositar no cartão de crédito nossas necessidades mais íntimas, a transferir para a conta bancária nossa esperança de felicidade, a negociar desde pequeno o afeto e a tirar proveito das relações humanas, afinal vivemos num mundo onde tudo é capitalizado, nosso interação com outro não pode fugir disso.

Mas, enfim, a questão como bem pontuou o Rodrigo, não está no fato de colecionar algo (se for estou perdida, já cai nas malhas do sistema, aliás estou afundada nele), mas sim discutir as necessidades reais dos proprietários de equipamentos, sobretudo dos proprietários amadores que não têm a fotografia como trabalho, como fonte de renda.

É interessante acentuar essa passagem que mostra bem a inversão das coisas.
A fotografia aqui é também um meio, não de expressão do ser humano, mas de evidência das qualidades da ferramenta. Ou seja, dentro dessa idéia da fotografia como artesanato, aqui o que se vê é a valorização extremada da ferramenta em contrapartida à subvalorização do trabalho em si.

Muito bom o texto

Caro RFP…
Estou lendo seu artigo somente agora.
Muito bem colocado. Somos consumistas e muitas vezes o consumidor não percebe, ou não quer perceber que está comprando apenas uma perfumaria maquiando um produto. Fotografia é pura A R T E. Forte abraço. Obrigado.

Acho ótima a discussão deste assunto, e vou entrar com um dado para ver no que dá.

Não que eu seja estatística de nada, mas comigo aconteceu exatamente o que descrevo :

Uso para trabalhar uma Canon 5D, que tem 2 anos e meio, e que está começando a ter problemas de riscos permanentes no sensor ( decorrentes de limpezas frequentes) e desgaste natural do shutter.

Nem me preocupei em saber quanto custaria trocar o sensor e shutter, simplesmente vendi minha câmera backup ( uma Canon 20D), passei a 5D para backup e comprei uma 5 D Mk II.

Sei que trocar o sensor seria mais barato que comprar um corpo novo, mas nem tão mais barato assim. Considerando que a nova 5D Mk II tem vários avanços ( inclusive limpeza automátia de sensor), o que foi que fiz?

Isso será consumismo desnecessário ou uma adaptação pensada `a uma evolução constante de tecnologia?

O que acham? :ponder:

()s

Ana :slight_smile:

Agradeço a todos pelos comentários sobre o texto.

Ana, a sua questão é pertinente. Veja só, a questão toda está muito menos no comportamento individual dos consumidores do que na forma como tudo é apresentador e organizado. Esse sistema não se pauta no consumismo desenfreado, mas sim num modelo que nos leva a consumir o tempo todo, mesmo quando não queremos. Você vê, as coisas são feitas para durar pouco (como a sua câmera). Mesmo quando duram, são feitas para parecerem obsoletas rapidamente. Atualizações são impossíveis e consertos são caríssimos. Ou seja, quando temos um problema, fica mais fácil, barato e “vantajoso” trocar de câmera.

O que podemos pensar é o que já foi colocado no artigo: você de fato precisa dos avanços do novo modelo? Eles tiveram um grande impacto na sua fotografia? Eles garantem que você não terá que trocar de equipamento daqui a dois ou três anos novamente?

Ótima discussão, RFP.

Lendo os posts acima fui lembrando de várias passagens observadas no últimos anos. Veio à memória a entrevista do fotógrafo da Benetton no Roda Viva, Oliviero Toscani, quando ele chamou os publicitários de vendedores (vendittori) e quase matou do coração o Petit (o “P” da agência DPZ), que começou a xingá-lo e desmerecer os vários prêmios que o fotógrafo havia recebido.

E lembrei também que é esse consumismo infantil que, entre outras coisas, vem matando o filme fotográfico, que eu tanto preciso para alimentar minha Rolleiflex de 1960. Inclusive a própria fábrica parece que fechou as portas recentemente… (Tentei fazer uma conta simples outro dia, pra calcular quanto essa máquina custou por ano de vida útil, e comparar com o custo das Canikons da vida. Desisti da conta).

Um ex-dono de loja de material fotográfico aqui em Sampa, por sinal um dos caras mais honestos e diretos na relação com o cliente e que tinha a loja mais charmosa da região central da cidade (deve ser por isso que acabou vendendo o negócio), um pouco antes de sair do ramo conversou comigo e apontando a vitrine mostrou uma antiga Leica de rosca, e falou:

  • Veja, é uma puta câmera, mas quase ninguém mais quer ter nenhum trabalho para fazer uma foto.

RFP, hoje em dia a Nikon (por exemplo) fabrica modelos com mais e melhores recursos que a F5 (e até mesmo a F6) jamais sonhariam e jamais se ousaria dizer que ficariam obsoletas por não tem um limpador ultrasônico para o espelho…
Alguém em sã consciência é capaz de explicar porque a Sony (por exemplo) lança tantas câmeras compactas quase todo mês que fazem basicamente as mesmas coisas e só mudam mesmo o nome ou alguma frescurinha (pra mim é quase tudo igual) ? :ponder: :ponder: :ponder:

Rodrigo:

Artigo excelente, como todos os outros que postaste. Parabéns.

E nenhum deles sujeitos à obsolescência.

Abraço.

Rodrigo seus textos são muito bons, e esse é mais um, parabéns pela qualidade dos textos que vc divide aqui com todos nós.
Gostaria tb de chamar a atenção para o fato da velocidade do avanço tecnologico hoje em dia. Muito verdade que as coisas não são feitas como antigamente para durarem. Mas além do fator de marketing para venderem outros produtos o avanço tecnológico é realmente incrível e parece exponencial, ou seja cada vez demora menos para grandes pulos tecnológicos não só em equipamentos fotográficos.
Mas concordo plenamente que fotografia é arte e até com um pinhole um bom artista tira fotos muito mais interessantes que alguém sem o mesmo olhar com uma hassleblad.
É só dar uma paseada no flickr e olhar alguns exifs para ver usuários com câmeras bem básicas que dão um show de fotografia no pessoal da 5dmii.
Artigo muito bom mesmo, gosto muito de ler o que vc escreve.
Abs.