Este comentário demonstra apenas que seu amigo leigo no que tange à norma ISO.
A sensibilidade na norma ISO não tem vínculo com tonalidade representada, a tonalidade tem a ver com o tratamento dado ao sinal recebido.
A Sensibilidade, segundo a norma ISO 12232:1998(que determina a sensibilidade para dispositivos digitais), tem relação apenas com a relação de conversão sinal para ruído do sensor (não aparece citações sobre tons em momento algum), são várias indicações de determinação, mas todas baseadas nesta relação. Quando se fotografa em uma determinada sensibilidade em 0EV não quer dizer que você obterá cinza médio, latitudes simétricas, ou qualquer outro tom específico, apenas que você obterá a máxima qualidade em termos de relação sinal ruído (em uma das metodologias propostas).
A tonalidade é representada posteriormente pelo tratamento e é fruto de uma abordagem do fabricante. Outro fator é que imagens obtidas por sensores assimétricos também tendem a representar com maior destaque a um determinado perfil de tons, dando a entender que a imagem é mais clara ou mais escura devido a este desequilíbrio.
Outro conceito importante a separar é o conceito de ISO e ISO estendido. O ISO estendido não é sensibilidade dentro da norma ISO, ele é uma simulação digital puxada, portanto produz desvios na curva de tonalidade, já que será aproveitada a curva de tonalidade da maior sensibilidade disponível no dispositivo, arrastada por uma operação, via processamento, para o equivalente a um ponto acima.
Estes procedimentos todos (inclusive a alteração da própria sensibilidade do dispositivo) alteram a resposta da mídia para cada sensibilidade base, assim você tem comportamentos de resposta diferentes, que exigem processamentos diferentes para cada sensibilidade. Devido ao comportamento das mídias nem sempre os fabricantes conseguem representar os tons sempre de forma homogênia no processamento final.
A sensibilidade tem a ver com qualidade de registro e não com tom exibido na cópia final, no método recomendado pela norma é considerado o ponto de exposição aquele onde ocorre o início do declínio do crescimento na melhora da relação sinal para ruído. Por isso que sempre digo que é muuuuuito importante estudar fundamentos antes de se propor a discutir esse tipo de coisa e até mesmo antes de fotografar, porque só desta forma você pode entender o que está sendo modificado e o que se ganha e se perde em cada operação feita no equipamento. O bom fotógrafo pode até ser aquele bom reprodutor de regrinhas e interpretações superficiais, mas o fotografo genial é aquele que cria e que domina os fundamentos para representar adequadamente o que criou e este último só se consegue estudando muito e bebendo de fontes nobres e não buscando entendimentos superficiais sobre o que se está analisando.
No caso os fabricantes não enganam ninguém, eles operam na obtenção deste ponto de máximo crescimento da relação sinal para ruído para atender ao preceito aconselhado pela norma (inclusive é isso que eles tentam medir no site da DXO quando eles fazem o testes base Full SNR, que é exatamente o teste de sinal recomendado pela norma ISO, mas feito direto no sinal analógico), A própria medição da DXO, no que tange à medição do que eles chamam de ISO nominal, é equivocada, porque não considera duas coisas elementares, a primeira é que a norma é clara quanto à tomada ser direta e a DXO trabalha com dados oriundos do conversor A/D (que já recebeu processamento), assim eles não fazem uma leitura direta do sinal e sim uma medição já convertida em bits digitais (já que uma vez convertido o sinal já é representado por 1 e 0 e não mais por uma intensidade de sinal), então por si só estes testes não são medições precisas do ISO, pois são obrigados a considerar uma faixa dinâmica arbitrária (já que recebem a a faixa dinâmica tomada pelo conversor A/D), o que os transforma em estimativas baseadas na conversão digital e um ponto 0EV baseada na curva de faixa dinâmica da imagem obtida pelo conversor A/D e não do sensor), que na maioria dos casos passa longe do ponto exato, pois considera uma faixa dinâmica mais simétrica, o que raramente ocorre (normalmente as câmeras digitais preservam bem mais sobras do que luzes altas, mas também mais detalhes nas altas do que nas baixas, por isso a impressão das imagens serem mais escuras nas digitais do que nos filmes - mude o centro de cinzas no levels do PS que você perceberá como a simples mudança do equilíbrio das curvas altera a exibição da imagem de forma significativa).
Neste caso quem se engana acaba sendo o próprio usuário que, muitas vezes, são completamente leigos no assunto. Fotógrafos com o devido conhecimento nunca esperiam obter um determinado tom a partir de um determinado ISO, como sabem o funcionamento da câmera esperam obter maximização de qualidade para o 0EV daquele ISO, tanto nos filmes, como nos dispositivos digitais, nada além disso. Os tons o fotógrafo obtem no estágio de processamento, que é um estágio posterior à captura (apesar de no mundo digital estes momentos distintos serem facilmente confundidos).
Por um critério ainda mais óbvio não se pode esperar que o ISO estendido atenda à norma, já que ele é um ISO puxado. Neste caso o ISO estendido terá como ISO real para cima o ISO máximo que o sensor consegue oferecer como sensibilidade base e o restante da “sensibilidade” nada mais é do que uma “puxada” na curva para ajustar um determinado tom e para baixo o ISO mínimo que o sensor pode oferecer. Neste caso espera-se nos ISOs estendidos que ele seja, em termos nominais, mais baixos ou mais altos do que os ISO propostos (dependendo se estarão estendidos para maior sensibilidade ou menor sensibilidade). Esta questão, inclusive, ilustra o problema das medições da DXO a partir da saída do conversor A/D, que enganam as medições deles em grande parte dos ISOs estendidos, fazendo com que eles se pareçam bem maiores do que realmente são (quando puxados para aumentar a sensibilidade).
A questão ganha boas dimensões para discussão quando levamos à importância do que saber. Quando sabemos o ISO sabemos apenas uma parte do que precisamosque e que ela tem uma recomendação, mas mais de um método de medição possível. Também precisamos saber como é como se comporta a faixa dinâmica do equipamento e sua curva de desempenho para mapearmos a latitude. Apenas com todo este conjunto de informações na mão é que é possível tomar decisões coerentes usando a norma ISO dentro do que ela realmente significa, que é através de uma metodologia de meidição e de um jogo de perde e ganha de qualidade associado a um determinado conjunto possível de representações tonais.