Estou lendo um livro com fotos e entrevistas de Cristiano Mascaro (Página inicial .:. Editora BEĨ). No início, fala sobre como se interessou por fotografia e cita uma foto de HCB (Joinville-le-Pont) como a que o cativou… no fim do livro havia esta e a do título deste tópico, que sempre vi mas acho que nunca inteira (só a parte do homem) e nunca achava nada demais nela.
Resolvi parar um pouco mais e ficar olhando cada pedaço da foto e fui me surpreendendo com ela… não só pelo salto, com o homem quase tocando a água, mas também o alinhamento, as linhas verticais das antenas e da grade. Percebi o cartaz rasgado ao fundo e desejei saber sobre o que seria e vi… o que mais me fez gostar e muito desta foto… o desenho de uma bailarina saltando, um salto semelhante ao do homem, fazendo um par, um para cada lado, ambos no ar, ambos em silhueta, formando uma composição fantástica!! E pensei: “que danado!!!” E desejei muito saber o que havia passado na cabeça dele antes e no momento decisivo… será que havia percebido tudo isso e só estava esperando alguém passar para compor isto? Foi completamente ao acaso? E qual não foi minha surpresa ao saber que fez a foto no susto… (“There was a plank fence around some repairs behind the Gare Saint Lazare train station. I happened to be peeking through a gap in the fence with my camera at the moment the man jumped. The space between the planks was not entirely wide enough for my lens, which is the reason why the picture is cut off on the left.” - Cartier-Bresson's Decisive Moment by David Friend - The Digital Journalist)
Gostei de poder ver minha visão se transformando por um detalhe que me havia passado totalmente desapercebido, agora me fazendo gostar muito desta imagem…
Acho interessante dar uma olhada no post sobre esta foto no blog abaixo…
Só uma observação… Pelo que o HCB declara não dá pra dizer que a foto foi feita “no susto”. Ele era muitooo observador da realidade em volta dele e conseguia fotos tendo percebido um alinhamento dos elementos da cena que se harmonizavam numa composição diferenciada e conseguia nesse exíguo momento de “alinhamento” fazer a foto (momento decisivo).
Nesse caso daí, pode ser que ele tenha metido o olho no fresta da cerca e antevisto a cena (ele tinha olho clínico para a composição dos elementos) com a aproximação do homem. Colocou a lente na fresta e esperou o momento correto. Não chamaria uma foto nesses condições de “foto no susto”. Evidentemente ele compunha e antevia com grande rapidez mas “susto” acho que fica uma expressão muito imediata, muito rápida. Tenho certeza que ele fez fotos “no susto”. Mas essa não me parece ter sido uma delas.
Susto realmente foi um exagero, mas a frase dele deixa margem a este pensamento… ele já estava por lá fotografando outra coisa e olhou através da grade e anteviu a cena do homem, mas não todo o resto ou estava lá já com a câmera preparada e a cena composta aguardando que algo acontecesse? Como ele poderia imaginar que esta imagem ocorreria? Isto é que acho incrível e não sendo então no “susto”, mais ainda!
É exatamente isso daí… Ele é mais um colocador de armadilha do que um caçador. Ele acha a composição e fica um tempão no mesmo lugar, esperando acontecer alguma coisa.
Eu não sabia disso, quem me contou foi o Igor, lá do brfoto, um que faz street… Ele tb faz assim, dá uma paradinha, fica ali um pouquinho… Aí eu vendo ele fazendo isso perguntei e ele me explicou isso daí, foi dia desses isso. Daí depois eu fui correr atrás e tem uns contatos do Bresson aí pela internet, e é isso mesmo que ele fazia.
Desse pessoal do street eu gosto do Winogrand, que é bem outra onda, “retrato-estupro”, já fiz isso um pouco aqui na paulista de sair clicando as mulheres ofensivamente assim de frente algumas vezes… já ganhei bolsada e já peguei telefone tb, rs… mas é muito estressante, prefiro fotografar aqui na minha casa mesmo.
Então, bora marcar esse rolê de poste, aí! kkkkkkkkk
é bom que não cansa muito, né! rs
Cara eu tava mandando uma que era fotografar de bike… é muito irado porque vc vê o fulano lá na casa do chapéu e vai buscar, ainda escolhe o melhor angulo, tava fazendo isso com uma Olympus XA mas aí minha bicicleta fixa quebrou e pra fotografar de roda livre eu não consigo, e tb perdi a câmera. rs…
Bresson também não fazia uma única foto de uma cena, ele chegava a gastar rolos para ter a foto que ele queria, já vi outros artigos sobre ele.
O segredo dele não é que, ele está no local certo na hora certa, só esperando o “Momento decisivo” e sim que ele fazia várias fotos, e só mostrava aquela que ele julgava ser a melhor.
Acho que o segredo é bem esse mesmo, mostrar só o que considerou bom, assim seu material sempre terá um nível alto. O que ficar ruim, guarda, esconde, apaga, queima, qualquer coisa…
Ei Thiago tem coragem de enfrentar o transito com fixa?
Tem saco roxo em meu…
Tenho vontade de montar uma fixa pra mim, acho muito estiloso a bike pelada… Mas a ideia de nunca parar de pedalar ainda é estranho pra mim, ainda montarei uma porém com dois lados na roda, uma com fixa e outra com k7. E um freio na roda dianteira pra ficar seguro…
O HCB era muitooo cioso de suas composições. Dava ordem bem especificas para que não cortassem nas revelações e nem mesmo nas ampliações (que usam 2-3mm de borda para prender o papel).
ACHO que ninguém jamais viu a ‘Behind the Gare Saint Lazare’ revelada sem os cortes (EU ao menos nunca vi). Ela quando foi publicada originalmente, o foi cortada e sempre (ao que me consta) foi reproduzida assim.
Como é que você consegue achar estas coisas? Pelo que li, talvez tenha sido a única foto que ele fez que foi cortada… acredito que esta tenha sido a única foto com esta composição… sabe se foi, Hyde? Tem uma foto no “Magnum Contatos” que mostra o que foi dito antes, que ele fazia várias fotos e depois escolhia a melhor…
Caramba Hyde! Cara, da onde você tirou isso? Muito f0da!
Já procurei o livro que você indicou nas livrarias aqui, e não achei… Vou pedir pela internet amanhã.
Vc diz através do muro quebrado???
ACHO que já vi outras com esse mote… Pela localidade e característica da foto parece ser Espanha durante a Guerra Civil, década de 30… Perálá…
Sobre o HCB tem muitasssss lendas. Uma delas é sobre a forma como ele obtinha as fotos. Alguns dizem que ele passava horasssss na mesma posição esperando a foto “acontecer”, outros dizem que ele conseguia as fotos furtiva e rapidamente. Eu acho que pode ser das 2 formas, mas na biografia que li o autor descreve várias vezes como a foto foi obtida (especialmente um trabalho de retratos que ele fez sob encomenda com várias personalidades ilustres da época) e em algumas vc percebe nitidamente que o método dele era o furtivo. Inclusive ele declarava que durante suas conversas e passeios diários com as pessoas e pelos lugares que ele frequentava ele fazia dezenas/centenas de fotos mentais. Que era um exercício contínuo. Quando os elementos se harmonizavam ele clicava metalmente.
Agora vou precisar sair… Amanhã retorno com mais informação.
Logo que descobri esse método do Bresson, resolvi ir pra rua fazer algo parecido. Lembro que fiquei meia hora parado esperando um momento pra fazer uma foto. Achei aquilo um saco. Nem vi muito sentido nisso. Até me senti na idade do coroa :). Acho que quando eu for mais velho talvez eu passe a gostar dessa prática. O idosos são mais pacientes, né? Eles devem se sentir sempre com aquela sensação de um dia inteiro de piscina.
Aí é só sentar num banquinho durante todo um dia e aguardar o momento certo do clique. Mas enquanto o bicho do zé ficar me aporrinhando, acho que não vai rolar. :no: