Rodrigo:
Então vamos fazer o seguinte… E você? Por que fotografa? Por que fotografa e pensa na fotografia como pensa?
Ok, vamos lá. Como um bom psicólogo comportamental, preciso começar pensando que fotografo e penso na fotografia porque estive e estou num ambiente que favorece isso.
Há a influência do meu pai e do meu tio, que sempre gostaram de fotografia. Meu pai usava uma Pentax K1000 e eu, quando criança, não entendia porque as fotos que tirava com as câmeras automáticas que eu tinha não saíam como as dele. Meu pai é desenhista, então sempre houve em casa essa coisa da criação.
Junto com isso, tive uma formação por parte dos meus pais em que sempre esteve presente o contato com a arte, especialmente museus, livros, concertos e exposições de artes visuais.
Já minha formação acadêmica fortaleceu em mim o gosto pela leitura e pela escrita, o questionamento e a crítica. Comecei a ler e escrever muito cedo.
Acho que esses elementos foram os que possibilitaram, dentro de uma determinada condição, que fosse possível esse gosto pela fotografia. Essa condição apareceu especialmente no contato com a Tati, minha noiva, que também foi um modelo de criatividade e experimentação. Quando comecei a fotografar, continuei pelo simples fato de que as pessoas gostavam das minhas fotos.
De lá pra cá, no entanto, a fotografia tem se tornado uma coisa mais íntima, que me satisfaz quando consigo representar através dela algo que reconheço como verdadeiro na minha relação com o mundo que me cerca. Ou seja, já não me basta que gostem de minhas fotos (exceto quando são pessoas a quem prezo muito); há um caráter de representação que procuro atingir, e talvez tenha a ver com o que o Alex falou. Essa “representação” não se limita a um ponto de vista, mas a fatores intangíveis presentes tanto na minha percepção como no resultado da captura fotográfica. Nas fotos que eu fiz da , por exemplo, fiquei contente com o resultado, pois há nelas algo — no corte, nas sombras, nas formas, na profundidade de campo — que mostra um pouco a maneira como concebo a cidade. Ainda é um princípio, mas em que já vejo um pouco desses elementos não-tão-formais aparecendo.
Leio, penso e escrevo sobre fotografia porque acho que esse conhecimento me faz entender melhor aquilo que faço e procuro e, de alguma forma, isso acaba modificando o que eu produzo.